08 setembro, 2009

Triste Terça-Feira

O celular tocava naquela manhã uma música a qual Leo adorava. Não lhe agradou, entretanto, por ser o despertar de um dia que não queria acordar. “Tempo Perdido”, eis a música que tinha significado completamente ignorado por ele que queria perder aquela terça-feira na cama.

Levantando-se apesar de tudo tomou banho, café e o rumo aos ônibus lotados que o esperavam para levá-lo ao seu destino. Acabara de voltar de um feriado e a ressaca batia forte. O sono também. Já estava conformado com o aperto do lugar e não refletia nenhuma expressão sequer, ao contrário dos outros que partilhavam o desconforto. “Estão exagerando”, pensava.

Naqueles corredores passava de cabeça baixa e rosto sério. Entregava-se ao silêncio durante seis horas seguidas. Talvez mais, menos. Prestava atenção, ria quando podia, lia seu livro e ficava sempre só. Assim se passou meio ano até aquela terça-feira. Ocorria tudo da mesma forma. Não havia nenhum rosto nas faces dos colegas. Simplesmente nada significavam para ele.

Voltou para casa em um ônibus um pouco mais vazio. Aquilo o satisfez pelo dia, conseguiu sentar e estava lendo seu livro. Pensava sempre em como havia parado lá. Como havia esquecido os outros, a necessidade de interação humana.

Chegou, comeu e se deitou. Seus olhos fecharam em simples prazer. Descansava enquanto a vida deixava seu corpo. Faleceu na tarde de terça tornando aquele só mais um dia. Morreu do coração. Ou talvez por falta de um.

Gabriel Vitor Tortejada

Um comentário:

julia lelchi . disse...

adorei esse final, é bem do tipo que eu gosto.

postei coisa nova :)