02 dezembro, 2009

Vilões Urbanos

Seria mais do que arrogância dirigir-me a quem quer que seja dizendo que sou um homem bom, ou melhor, seria prepotência pois não sou um homem bom. Aliás, ninguém é. Segunda-feira fui comprar pão e a fila estava imensa. O engraçado também é que não fui o único a fazer isso. Furei a fila. Aproveitei a distração de uma mulher idosa para entrar na sua frente. Pessoas vêem essas coisas mas não dizem nada.

Também não foi meu mais grave delito. Semana passada achei uma nota de cinqüenta no chão do banheiro. Eu vi o homem que a havia deixado cair e a peguei da mesma maneira. Pude sentir como se estivesse tirando aquele dinheiro do bolso do homem. Mas quem perderia a oportunidade de ganhar cinqüenta paus? Naquele dia garanti um almoço bom e farto.

Delitos assim, por menor que sejam, conseguem mostrar a verdadeira essência de cada pessoa. O quanto de bom e de ruim cada um tem dentro de si. Minha vizinha está traindo o marido e tudo o que eu posso pensar é o porquê dela não estar traindo comigo. Ela realmente é um pedaço de mau caminho.

Meu priminho rouba chocolates do supermercado – quem sou eu para dizer algo contra? O padeiro sonega impostos, o advogado usa adesivo de deficiente físico no carro sem que seja um, dona Aninha joga água no apartamento da vizinha de propósito, Juninho, onze, vira a lata de lixo do condomínio todos os dias, Augusto rouba toalhas de hotéis que visita. E Manuella. Ah! A vizinha Manuella trai seu marido com um estudante do segundo ano do colegial. E eu, com meus poucos vinte e cinco, desempregado e a desejando. É engraçado como quando ficamos desocupados adoramos espiar a vida alheia.

Gabriel Vitor Tortejada

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