05 janeiro, 2010

Barbárie romana

Seja então essa a minha confissão final. Chamam-nos de monstros, vis, cruéis. Chamam-nos de bárbaros, seja lá qual for o significado de tal vocábulo. Fazem-nos lutar até a morte em arenas para alimentar a sede de sangue de um povo que se intitula romano. Que tipo de crueldade sou eu capaz à frente de tamanha frieza e monstruosidade? Sou chamado de Selifix, um nome o qual nunca tinha ao menos ouvido. Entendo um pouco desse latim repulsivo que essas criaturas falam, não há nada de refinado ou difícil, são apenas murmúrios de animais.

Não há honra na veia desses homens. Lutei por centenas de vezes consecutivamente procurando uma simples libertação e de nada adiantou, simplesmente me colocam para lutar mais. Que tipo de diversão ensandecida é essa que tanto procuram e nunca acham? Deixei-me ser dominado pela vida de minha mulher, de nada adiantou, virou escrava, foi violentada e morta.

Não há trabalho na vida dos líderes. De que maneira teria um deles honra sem ter ao menos trabalhado? Sem ter protegido o seu próximo mesmo que não tenha relação de sangue com você. Eles não têm lealdade, matam por luxos e mulheres. Eles não têm amor, transformam um ato lindo em uma repugnante cena de horrores. Orgias, bebedeiras, são monstros desalmados.

Eu quero a neve de volta em meu rosto, o bafo quente das fogueiras de tarde, o amor noturno com minha mulher, o abraço apertado de meus filhos. Eu quero a honra da guerra por proteção, quero a sensação de trabalho bem feito com a comida que punha na mesa. Quero a liberdade desse Império vermelho de sangue, quero fugir da ganância. Nesse dia entro na arena de encontro à morte, não quero mais lutar, não colocarei mais sangue em minhas mãos. Encontrarei minha família após a morte e que os deuses tenham piedade de minha alma.

Gabriel Vitor Tortejada

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