22 setembro, 2008

Monólogo da Cenoura

Eu gosto de cenouras. Não pelo fato de serem facilmente comidas, mas até por serem um tanto quanto doces. Gosto até quando se põe temperos nelas, muda um pouco, mas não perdem o seu gosto único, apenas o ressalta. Gosto também do barulho que fazem quando mordemos, a “crocância”.
De certa forma ela me influencia muito e, não é a toa que minha cor favorita é laranja. Cenouras me fazem lembrar da mamãe, de como ela acordava todo o dia de manhã para colhê-las, me fazem lembrar de papai e suas piadas obscenas sobre esse tão sutil alimento.
Tem horas que me dá vontade de chorar e logo corro para a horta e como uma cenoura, para lembrar-me dos outros, como eram e como foram embora. Na solidão tudo se ameniza com uma bela e boa cenoura. Crua, temperada, cozida, assada... Hum... Assada, assada me faz lembrar do meu irmão, como gostava de cenoura assada.
A cenoura me faz perguntar o porquê de todos terem ido embora, será Deus? Enquanto ando pela cidade, comendo minha cenoura, olho para as casas vazias e imagino como posso ter sido o único a ficar? Imagino ainda como sobrevivi todos esses anos? E o pior, será que gosto mesmo de cenoura?

Gabriel Vitor Tortejada

10 setembro, 2008

Nos campos abertos de asfalto

Aqui, flores do campo não cheiram mais,
Não há mais aquele céu estrelado.
A brisa limpa? Não mais.
A troca do esplendor azul,
Pelo amargo cinza.

Sem mais amor nos corações;
Só desprezo e desgosto.
Esperança? Não mais.
Apenas almas doentes;
Em um ritual rotineiro e ilusório.

Dor sem igual demonstrada,
Pelos rostos pálidos e amargos,
O cansaço dos sedentos por liberdade,
O ódio dos que procuram quietude.
Buzinas, alarmes, apitos, músicas, loucura!

Cada um vivendo uma morte lenta,
Em meio à uma selva de concreto e metal,
Procurando sempre o descanso eterno,
Então lembra-se que vive,
E foge a todo custo.

Na página em branco da minha alma,
Escrevo o que fui, sou e sempre serei;
O que foi, és e serás.
Escrevo o que nunca vai se apagar:
Que uma vida digna de nossa morte,
Nunca vamos alcançar.

Gabriel Vitor Tortejada

04 setembro, 2008

Na sombra da morte

Algo inevitável,
O último suspiro em busca
Do descanso eterno.

Para quê chorar por quem se foi,
Gostarias que chorassem por ti?
Gostarias de ver quem gostas sofrendo?

Não achas egoísmo
Não querer que alguém se liberte de ti?
Independente de credo,
Alguém foi para um lugar melhor.

Não tentes adivinhar, descobrir.
Já há o suficiente nesta vida para desvendar,
Por que privar-se daquele frio na barriga,
Da ansiedade pelo desconhecido?

Levante-se alma dolente,
Apesar de doloroso és uma lição,
Aquela que todos devemos aprender,
Após cativar, descativar.

Gabriel Vitor Tortejada