17 setembro, 2009

Do beijo do Mar

Não consigo pular.
Não consigo pular no Mar.
Alguns me chamam e digo que não quero.
Mentira.
Tenho medo.

Lembro que consegui duas vezes já.
Faz muito tempo.
Depois disso fiquei sentado,
Olhando.
Sentado no píer do contentamento.

Acho que o Mar está brincando comigo.
Sim, ele está brincando.
Ele chega perto, beija meus pés.
Como se me chamasse.

É, o Mar está flertando comigo.
Não é que eu já não tenha pulado recentemente.
O álcool faz isso comigo.
Muda-me.
Ele me fez pular,
Mas o Mar se recolheu.
Deixou apenas areia molhada.
Apenas o gosto da ilusão.

Canso-me apenas de olhar,
Já que tantos mares já perdi.
E sereias deixei de abraçar.
De acarinhar.

Definitivamente o Mar está de pilhéria comigo,
Não de uma maneira ruim.
Está me ensinando.
Fazendo-me com que pule na hora certa.

Quando os corais que machucam não estarão,
Quando haverão as sereias certas.
Quando o sal já não machucará meus olhos.

Aí mais uma desculpa do meu medo!
Hei de pular de novo um dia.
Sóbrio.
Ou até escorregarei e cairei.
Desde que no Mar eu fique.
E não deixe nunca mais.

 Gabriel Vitor Tortejada

08 setembro, 2009

Triste Terça-Feira

O celular tocava naquela manhã uma música a qual Leo adorava. Não lhe agradou, entretanto, por ser o despertar de um dia que não queria acordar. “Tempo Perdido”, eis a música que tinha significado completamente ignorado por ele que queria perder aquela terça-feira na cama.

Levantando-se apesar de tudo tomou banho, café e o rumo aos ônibus lotados que o esperavam para levá-lo ao seu destino. Acabara de voltar de um feriado e a ressaca batia forte. O sono também. Já estava conformado com o aperto do lugar e não refletia nenhuma expressão sequer, ao contrário dos outros que partilhavam o desconforto. “Estão exagerando”, pensava.

Naqueles corredores passava de cabeça baixa e rosto sério. Entregava-se ao silêncio durante seis horas seguidas. Talvez mais, menos. Prestava atenção, ria quando podia, lia seu livro e ficava sempre só. Assim se passou meio ano até aquela terça-feira. Ocorria tudo da mesma forma. Não havia nenhum rosto nas faces dos colegas. Simplesmente nada significavam para ele.

Voltou para casa em um ônibus um pouco mais vazio. Aquilo o satisfez pelo dia, conseguiu sentar e estava lendo seu livro. Pensava sempre em como havia parado lá. Como havia esquecido os outros, a necessidade de interação humana.

Chegou, comeu e se deitou. Seus olhos fecharam em simples prazer. Descansava enquanto a vida deixava seu corpo. Faleceu na tarde de terça tornando aquele só mais um dia. Morreu do coração. Ou talvez por falta de um.

Gabriel Vitor Tortejada

06 setembro, 2009

Não me digas que não sabes fazer poesia,
Assim como não digo que não sei profetizar;
Pois poesia não se faz com um lápis em punho,
Ou um papel que se dá a ser escrito.
Faz-se com a alma a se viver a todo o momento.

Não negues que já fez poesia,
Pois teu olhar te incrimina,
E nele acho palavras que apenas traduzo,
E és tu que anuncia.

O poeta é um tradutor,
Daqueles que vê o que outros não,
Que traz das lágrimas a maldita impressão de beleza.
Não me dê, ou a outros, motivos para se vangloriar.
O poeta é um ladrão e disso não passará.

Gabriel Vitor Tortejada