22 abril, 2010

Satanista

“Não me iludo com esse tão famoso sentimento de felicidade, aliás, como é tão dito, feliz é quem sonha. Se quem sonha é feliz, se sente realizado com o que não tem e se ilude com o que poderia ter. Isso não é felicidade, é frustração. Podem me chamar de pessimista, estadista ou até de satanista, mas o que eu sou mesmo é conformista. Sonhos só te levam a pedir para sua mãe, ou para o despertador, mais dez minutos na cama. OK, eu sempre peço esses dez minutos mesmo sem sonhar, mas quem vai julgar? Nada melhor que enganar a felicidade com uma boa noite de sono e um bom dia de humor.”

“Falando nisso podemos viver plenamente sem felicidade apenas mantendo o bom humor. Falam que o humor causa uma explosão de hormônios no seu corpo, aqueles com os nomes tão grandes que me alongaria demais nesse diálogo, e evitam câncer e te ajudam a enfrentar qualquer doença. Pregue o humor, não a felicidade. Já que se você é feliz, você é sábio, pois ninguém sabe se é, pois essa maldita raça humana nunca sabe o que quer. Quase nunca. Só sabe que quer mais.”

“Então, se sou feliz eu não sei, prefiro viver ao pensar nisso. Saberei da minha felicidade e dos rótulos da minha vida quando eu morrer. Me lembrarei de ligar para você quando eu morrer, aí poderemos discutir se fui ou não feliz. Cara! Quantas palavras repetidas em um texto só! Licença poética, eu posso. Assim como escrever felicidade com cedilha. Quer ver? Felicidade. Não deu, a porcaria do Word corrigiu. Fazer o que, nem errar mais eu posso. Acho que então eu sou feliz, porque todos me dizem o que fazer e o que sou. Dane-se, já me alonguei demais. Quando eu morrer eu te ligo para conversarmos mais. Fale mais da próxima vez, quase não ouvi a sua voz! abraço!”

Gabriel Vitor Tortejada

06 abril, 2010

Ás Noturno

- Acho que eu posso tentar conversar com você antes de tudo, não posso, Andrei?

- O que há para conversar sobre isso. Você não é um herói, sua obrigação não é me surrar e depois me prender?
    
O sorrateiro herói desce dos telhados do banco e entra andando pelo saguão do banco a fim de evitar que qualquer outra coisa ruim acontecesse. O seu nome é Ás Noturno e está cara a cara com um de seus arqui-inimigos, o Punho de Aço.

- Você acha mesmo que essa é a minha intenção? Machucá-lo e prendê-lo? Eu quero muito mais do que isso. Eu quero uma vitória. Eu uso da violência contra você apenas para evitar que você machuque alguém. Eu não me orgulho disso.

- O que você quer afinal? Que tipo de vitória é essa que você procura?

- Apenas quero que você entenda que o que você faz é errado. Arrombando um cofre de um banco você não está nada mais do que roubando o dinheiro da poupança daquela senhora viúva que vive de rendimentos do banco. Que matando alguém, uma mãe e/ou um filho vão chorar rios de lágrimas, vão sentir suas vidas miseráveis por apenas uma ação impensada sua. O que eu procuro na minha vitória é que você se torne assim como qualquer cidadão com os quais esbarro todos os dias. E não desejo a eles, menos que a você felicidade plena e perpétua. Eu quero que você viva a felicidade que eu não poderei viver enquanto houver pessoas com os mesmos pensamentos que você tem. Quero que viva uma vida completa que eu não poderei viver pela mesma razão. A vida que eu me privei ao usar uma máscara e viver duas vidas incompletas.

- E o que você ganha com isso?

- Simplesmente a satisfação de ter encontrado num inimigo, um amigo. E um motivo que me impeça de perder a esperança. Olhe nos olhos dos reféns que você mantêm e veja se eles não têm nada a perder com suas mortes. Veja o pânico, e imagine algo que você protege com unhas de dentes. Você não é menos humano do que eles. Nem eu sou, eu só escolhi me martirizar por dons que me foram dados. A minha vitória é ver que a cada momento chego mais perto de um humano olhando em meus inimigos.

- Eu... Eu estou cansado. Não agüento mais essa raiva, essa vingança.

Os braços caem no chão assim como todos os outros equipamentos da morte do Punho de Aço. Lágrimas escorrem por seus olhos assim como deveria acontecer com todo e qualquer ser humano. A polícia chega e o algema para levá-lo em cárcere. Uma última fala do herói é escutada:

- Você terá muito tempo para pensar na sua vida enquanto estiver na prisão. Mas veja, se estiver disposto a mudar, eu prometo uma visita minha toda a semana por todos os anos que você passar pagando pelos seus crimes, pois como eu digo, eu me preocupo com todos os humanos dessa cidade igualmente. O que me diz?
   
- Parece ótimo.