21 julho, 2009

Do Arrependimento

Do momento em que me apóio no parapeito, me dá aquela vontade que nunca pensei que teria. Apesar de justificável é simplesmente errado. Olho fixamente para o chão lá longe de mim, ansiando provar do gosto daquele concreto. Prová-lo com todas as partes do meu corpo.

Atravesso o apoio, fico firme por alguns centímetros de chão. As pessoas ficam muito pequenas do vigésimo andar. “Será indolor, é alto demais para que eu sofra algo, será instantâneo”. O vento gelado é uma prévia da breve queda que posso ter, calmo, bom e apavorante. Por um momento posso me sentir livre de tudo, frustrações, dores e arrependimentos. Ainda que não esperando nada depois, parece-me valer a pena.

As lágrimas que prevejo quase me fazem mudar de idéia. É um pouco doloroso imaginar que você causa dor nos quais eu protegi por toda vida. Algo que já senti e não desejo para ninguém. Minhas crianças ficarão desoladas, minha mulher será forte. Terá de ser. Apesar de odiar tudo até hoje posso dizer que amor eu já senti, mas não é o suficiente.

A raiva e o ódio são muito presentes em mim, mesmo não valendo a pena. O vazio, o escuro, o nada. Dentro de mim não sinto nada, nenhum motivo que me faça querer seguir em frente, que me torne feliz. Felicidade momentânea é muito presente em toda a minha história, mas nada fixo. Não assumo minha vida nesse sentimento, simplesmente estaria mentindo.

Sinto um toque na minha mão, é meu irmão, e está tentando me convencer a sair da borda do terraço, desistir de qualquer coisa que eu quisesse fazer naquela hora. Como ele sabe o que eu estou pensando agora? Respondo com um soco em seu nariz e ficar apoiado em uma só mão. Por incrível que pareça estou extremamente calmo.

Nesse momento já se juntaram muitas pessoas junto ao prédio. Gente gosta de ver a desgraça alheia, não conseguem achar nada mais interessante para fazer além de espiar a vida de outros, ou a morte. Já consigo sentir o toque gélido da morte em meu rosto, a essência que tanto me inspirou por toda a minha vida existe. Não sei se é da minha cabeça, mas a sensação é real.

Ao fechar os olhos minha barriga gela, solto minha mão remanescente e inclino-me aos poucos em direção ao vão. Ao cair todo o meu corpo treme, minha espinha congela, estou ficando mais rápido, o medo me domina como um soco no estômago. “Isso não é nem um pouco parecido com liberdade”, lágrimas chegam aos meus olhos junto com o arrependimento. O que será de mim agora? Algum deus? Nada? O pânico me domina nos últimos segundos antes da calçada. Solto um grito tímido, imagens boas passam pela minha cabeça, imagens de minha família, de meus amores, meus prazeres. Fui covarde.

Gabriel Vitor Tortejada