22 dezembro, 2009

Deixe estar


Descem-se as neves do esquecimento,
Acabam-se as páginas do calendário por se arrancar,
Espera-se que algo venha e mude,
Focamos o novo e esquecemos nossos erros.
Deixe estar?

Consertar é difícil.
Mais ainda é tentar lembrar,
A dor que causa.
Às vezes a ignorância é a saída.
Deixe estar?

Roubo um verso de um mestre
Em sinal de revolta.
Questiono os valores modernos
E os antigos.
Quero algo diferente para nós.
Deixe estar?

Seria prepotência dizer que sou melhor?
Somos todos melhores,
Mas nos contentamos com pouco.
E o muito que queremos às vezes é demais.
Deixe estar?

Esquecemos que o tempo é linear,
Não se quebra em 365 dias,
Não muda por esperança,
Requere-se uma ação.
Deixe estar?

Não quero ser feliz por um dia,
Em troca de ser miserável os outros.
Quero brigar triste por 365 para mil felizes.
Não vou ficar feliz esse fim de ano,
Nem no próximo.
Eu não quero dizer como sempre:
Deixe estar.

Gabriel Vitor Tortejada

18 dezembro, 2009

Mais uma de timidez

O mar não é feito de variáveis
Talvez sejam apenas bobagens
Das exclamações que farei a seguir.

Não é de minha natureza,
Nem de meu intuito
Esquecer-me de meus conceitos
E me afogar em luxuria ilustre.

Atenho-me às simples bobagens,
E não às que deveria me ater.
Suponho de modo criativo,
Suposições que nunca farei.

Meu mundo se perde no ilusório
O mar se exibe para mim,
Encanta-me e me seduz,
De maneira que não encontro uma luz.

Seria de fato sensato,
Entregar-me ao mundo promíscuo,
Mas desejo algo a mais,
Um mar que me trague eternamente.


Gabriel Vitor Tortejada

12 dezembro, 2009

Argumentações da máquina do tempo

Quebrar a linearidade das coisas sempre trás caos. Principalmente em mim depois de 5 anos acostumado com a idéia de permanência. A simples possibilidade de jogar os sonhos na lata do lixo para poder criar novos é estarrecedora, mas a de ficar com os meus sonhos e seguir sozinho é pior ainda.

Não seria de fato falsidade dizer que eu odeio esse lugar e que ele poderia afundar e explodir zilhões de vezes, porém a minha realidade está aqui, e lá está apenas a idealização de uma vida melhor. De que me vale uma vida melhor se a felicidade não me acompanha?

Minha vida intelectual começou nesse poço de almas vãs e fúteis. Minhas primeiras palavras foram escritas com o ódio de quem não se conforma com a possibilidade de viver no conformismo, de quem teve problemas para lutar e merdas para ver e se contrapôs a isso. De que me adianta ir para o lugar perfeito e virar um ignorante por completo. Talvez a ignorância seja uma bênção assim como dizem, mas ter consciência é melhor algumas vezes.

O dilema de fato tanto evitado por minhas palavras que insistem em metaforizar é: Sonho sozinho ou me conformo em conjunto? Difícil ou fácil? O que seria da vida sem aquelas escolhas que podem colocar tudo a perder? Se tornar adulto se torna mais difícil a cada dia, e o amadurecimento não se expõe para dizer o que eu agüento ou não, simplesmente se põe a prova.

Uma vivência passada sem sonhos e cheia de conformidade me diz que o caminho mais fácil é o que devo seguir, anos de leitura, estudo e – Se é que eu posso dizer – revolta me diz que desde que eu faça o certo, o resto não importa. Afinal, o que é o certo? É válido pensar em maniqueísmo em escolhas de vida? Certo, errado; branco, preto; claro, escuro; bom, mau; Céu, inferno. Como eu queria ver o futuro e as possibilidades.

Gabriel Vitor Tortejada

02 dezembro, 2009

Vilões Urbanos

Seria mais do que arrogância dirigir-me a quem quer que seja dizendo que sou um homem bom, ou melhor, seria prepotência pois não sou um homem bom. Aliás, ninguém é. Segunda-feira fui comprar pão e a fila estava imensa. O engraçado também é que não fui o único a fazer isso. Furei a fila. Aproveitei a distração de uma mulher idosa para entrar na sua frente. Pessoas vêem essas coisas mas não dizem nada.

Também não foi meu mais grave delito. Semana passada achei uma nota de cinqüenta no chão do banheiro. Eu vi o homem que a havia deixado cair e a peguei da mesma maneira. Pude sentir como se estivesse tirando aquele dinheiro do bolso do homem. Mas quem perderia a oportunidade de ganhar cinqüenta paus? Naquele dia garanti um almoço bom e farto.

Delitos assim, por menor que sejam, conseguem mostrar a verdadeira essência de cada pessoa. O quanto de bom e de ruim cada um tem dentro de si. Minha vizinha está traindo o marido e tudo o que eu posso pensar é o porquê dela não estar traindo comigo. Ela realmente é um pedaço de mau caminho.

Meu priminho rouba chocolates do supermercado – quem sou eu para dizer algo contra? O padeiro sonega impostos, o advogado usa adesivo de deficiente físico no carro sem que seja um, dona Aninha joga água no apartamento da vizinha de propósito, Juninho, onze, vira a lata de lixo do condomínio todos os dias, Augusto rouba toalhas de hotéis que visita. E Manuella. Ah! A vizinha Manuella trai seu marido com um estudante do segundo ano do colegial. E eu, com meus poucos vinte e cinco, desempregado e a desejando. É engraçado como quando ficamos desocupados adoramos espiar a vida alheia.

Gabriel Vitor Tortejada