22 dezembro, 2009

Deixe estar


Descem-se as neves do esquecimento,
Acabam-se as páginas do calendário por se arrancar,
Espera-se que algo venha e mude,
Focamos o novo e esquecemos nossos erros.
Deixe estar?

Consertar é difícil.
Mais ainda é tentar lembrar,
A dor que causa.
Às vezes a ignorância é a saída.
Deixe estar?

Roubo um verso de um mestre
Em sinal de revolta.
Questiono os valores modernos
E os antigos.
Quero algo diferente para nós.
Deixe estar?

Seria prepotência dizer que sou melhor?
Somos todos melhores,
Mas nos contentamos com pouco.
E o muito que queremos às vezes é demais.
Deixe estar?

Esquecemos que o tempo é linear,
Não se quebra em 365 dias,
Não muda por esperança,
Requere-se uma ação.
Deixe estar?

Não quero ser feliz por um dia,
Em troca de ser miserável os outros.
Quero brigar triste por 365 para mil felizes.
Não vou ficar feliz esse fim de ano,
Nem no próximo.
Eu não quero dizer como sempre:
Deixe estar.

Gabriel Vitor Tortejada

18 dezembro, 2009

Mais uma de timidez

O mar não é feito de variáveis
Talvez sejam apenas bobagens
Das exclamações que farei a seguir.

Não é de minha natureza,
Nem de meu intuito
Esquecer-me de meus conceitos
E me afogar em luxuria ilustre.

Atenho-me às simples bobagens,
E não às que deveria me ater.
Suponho de modo criativo,
Suposições que nunca farei.

Meu mundo se perde no ilusório
O mar se exibe para mim,
Encanta-me e me seduz,
De maneira que não encontro uma luz.

Seria de fato sensato,
Entregar-me ao mundo promíscuo,
Mas desejo algo a mais,
Um mar que me trague eternamente.


Gabriel Vitor Tortejada

12 dezembro, 2009

Argumentações da máquina do tempo

Quebrar a linearidade das coisas sempre trás caos. Principalmente em mim depois de 5 anos acostumado com a idéia de permanência. A simples possibilidade de jogar os sonhos na lata do lixo para poder criar novos é estarrecedora, mas a de ficar com os meus sonhos e seguir sozinho é pior ainda.

Não seria de fato falsidade dizer que eu odeio esse lugar e que ele poderia afundar e explodir zilhões de vezes, porém a minha realidade está aqui, e lá está apenas a idealização de uma vida melhor. De que me vale uma vida melhor se a felicidade não me acompanha?

Minha vida intelectual começou nesse poço de almas vãs e fúteis. Minhas primeiras palavras foram escritas com o ódio de quem não se conforma com a possibilidade de viver no conformismo, de quem teve problemas para lutar e merdas para ver e se contrapôs a isso. De que me adianta ir para o lugar perfeito e virar um ignorante por completo. Talvez a ignorância seja uma bênção assim como dizem, mas ter consciência é melhor algumas vezes.

O dilema de fato tanto evitado por minhas palavras que insistem em metaforizar é: Sonho sozinho ou me conformo em conjunto? Difícil ou fácil? O que seria da vida sem aquelas escolhas que podem colocar tudo a perder? Se tornar adulto se torna mais difícil a cada dia, e o amadurecimento não se expõe para dizer o que eu agüento ou não, simplesmente se põe a prova.

Uma vivência passada sem sonhos e cheia de conformidade me diz que o caminho mais fácil é o que devo seguir, anos de leitura, estudo e – Se é que eu posso dizer – revolta me diz que desde que eu faça o certo, o resto não importa. Afinal, o que é o certo? É válido pensar em maniqueísmo em escolhas de vida? Certo, errado; branco, preto; claro, escuro; bom, mau; Céu, inferno. Como eu queria ver o futuro e as possibilidades.

Gabriel Vitor Tortejada

02 dezembro, 2009

Vilões Urbanos

Seria mais do que arrogância dirigir-me a quem quer que seja dizendo que sou um homem bom, ou melhor, seria prepotência pois não sou um homem bom. Aliás, ninguém é. Segunda-feira fui comprar pão e a fila estava imensa. O engraçado também é que não fui o único a fazer isso. Furei a fila. Aproveitei a distração de uma mulher idosa para entrar na sua frente. Pessoas vêem essas coisas mas não dizem nada.

Também não foi meu mais grave delito. Semana passada achei uma nota de cinqüenta no chão do banheiro. Eu vi o homem que a havia deixado cair e a peguei da mesma maneira. Pude sentir como se estivesse tirando aquele dinheiro do bolso do homem. Mas quem perderia a oportunidade de ganhar cinqüenta paus? Naquele dia garanti um almoço bom e farto.

Delitos assim, por menor que sejam, conseguem mostrar a verdadeira essência de cada pessoa. O quanto de bom e de ruim cada um tem dentro de si. Minha vizinha está traindo o marido e tudo o que eu posso pensar é o porquê dela não estar traindo comigo. Ela realmente é um pedaço de mau caminho.

Meu priminho rouba chocolates do supermercado – quem sou eu para dizer algo contra? O padeiro sonega impostos, o advogado usa adesivo de deficiente físico no carro sem que seja um, dona Aninha joga água no apartamento da vizinha de propósito, Juninho, onze, vira a lata de lixo do condomínio todos os dias, Augusto rouba toalhas de hotéis que visita. E Manuella. Ah! A vizinha Manuella trai seu marido com um estudante do segundo ano do colegial. E eu, com meus poucos vinte e cinco, desempregado e a desejando. É engraçado como quando ficamos desocupados adoramos espiar a vida alheia.

Gabriel Vitor Tortejada

27 outubro, 2009

Retalhos

Deixo-me levar pela música,
A música de mestres incertos,
De tempos em crise que nunca terei,
De fatos insólitos que se desemaranham em poesia,
Música.

Invejo a dor deles,
Não é minha dor fútil,
Nem simples egoísmo da poesia de meu coração.

De que fatos devo eu cantar por devaneio?
Será que das bobagens de um desdedado?
Dos roubos constantes dos deseticizados?

Quem dera fosse Chico para escrever da que me deixou,
Ou talvez do silêncio que se passou,
Por algum motivo da roda viva que assim rodou.

Sinto a poesia se afundando no meu passar.
Aquela época em que não mais necessitam de nós,
Em que não mais nos lêem.

O anjo negro bate a minha janela,
Sussurra para que eu só ouça:
- Seja algo antes que eu o toque.
E assim vivo esperando o meu momento
Sabendo que nem sempre minha arte estará lá.

Talvez me dê vontade de gritar,
Gritar para ninguém ouvir,
Para passar em mim,
Simplesmente gritar Aleluia!

Talvez eu não possa queixar-me só,
E deixar o mundo apenas me dominar.
Um dia sim eu vou falar com a mão no peito,
Sentir junto com aquela minha amada,
Pensar e só gritar: Aleluia!

Gabriel Vitor Tortejada

23 outubro, 2009

Aniversário[2]

E o bilhete vai aos poucos indo para a frente da sala de aula até que chega nas mãos do professor a dúvida. Como de costume ele abre o abre com paciência e lê em voz alta:

- Professor, se nós viemos do macaco, por que não há macacos ainda hoje em dia se tornando humanos?

O professor fica estarrecido duvidando que aquilo fosse uma pergunta séria, a maioria da sala faz um suspiro de descrença no que havia acontecido, e olho para o teto e falo comigo mesmo: "Malditos crentes criacionistas". E o dia de aniversário se resume a uma pergunta idiota...

03 outubro, 2009

Do amor

O amor é fácil de se entender, fácil de se dizer, fácil de se reconhecer. Pelo menos para você, porque para mim não é nada fácil. Há quem diga que Camões está certo, outros, que Guimarães. Quem sou eu para contestar? Apenas discordo, já que apenas poderei dizer algo no momento em que eu senti-lo. Será mesmo que é um ponto válido para uma discussão, por ser uma coisa tão subjetiva? Costumamos discutir coisas subjetivas? Ah! Todo o dia!

Primeiramente me recuso a dizer-lhe o que é o amor, já que por muitas vezes tentei, mas nunca pude senti-lo. O que posso dizer-lhe é o que não é o amor, e como não dizê-lo, pois dizer “eu te amo” não torna isso verdade. Mas de novo, quem sou eu para aconselhá-lo em alguma coisa. Sou um simples mortal que nunca amou, ou pelo menos nunca percebeu se já.

Agradar alguém todos os dias não é amar, é hipocrisia, pois do momento em que você só agrada uma pessoa, deixa de agradar a si mesmo. O ideal é fazer quando lhe faz bem também, pois apesar da vontade, sofrer não é amar. Dizer mentiras não é amar, ou talvez seja, mas com certeza não é a maneira mais correta de demonstrar isso. Amor nem sempre é o que se sente por quem te ama. Tenha certeza, existem frustrações demais no mundo para você imaginar algo que não sente e ser infeliz.

Namorar não é amar, noivar não é amar, casar não é amar e sexo com certeza não é amar. Sexo é sexo, aproveite-o. Não seja forçado a ter algo que você não tem ou não quer. Lembre-se sempre que o que fazemos na sociedade nunca vai interferir no que nós sentimos, e não devemos querer que isso aconteça, pois não vai acontecer. Não viva uma ilusão.

Não diga “eu te amo” todos os dias, todas as manhãs. Três palavras ao vento na rotina diária não o farão sentir nada além de dever cumprido. Também não diga em momentos difíceis, não seja obrigado a dizer isso nunca. Use esse artifício quanto lhe vale, após um abraço apertado, após um beijo melado, quando não dá para segurar mais no peito. Asseguro-lhe, não terá sensação mais valiosa do que isso. Afinal, “eu te amo” não é bom dia.

    Apenas retribua um “eu te amo” se realmente sentir isso, se valer a pena, mas digo: Diga tudo, não menos nem mais. Três palavras bastam, e que sejam as mesmas ouvidas, pois melhor do que dizer à explosão do peito é receber de volta pela explosão de um sentimento.

Amores vão e vêm. Não digo que são eternos, mas também não digo que não são. Tudo tem seu tempo, seu prazo de validade. O que digo é que não existe à primeira vista. Um amor se reconhece após muito se conhecer. O sentimento vem com o tempo, e sim, o tesão deve ajudar muito.

Demonstre amor em cada gesto ou olhar seu, apenas se você sentir, é claro. Prove o amor, viva o amor, demonstre o amor. Já que muitas vezes, dizer “eu te amo” é muito difícil para quem realmente sente. Viva o amor a cada momento. Morra de amor a cada sentimento, viva de amor a cada pensamento. Mas só peço uma coisa. Quando descobrir o que é amor, diga-me.


Gabriel Vitor Tortejada

17 setembro, 2009

Do beijo do Mar

Não consigo pular.
Não consigo pular no Mar.
Alguns me chamam e digo que não quero.
Mentira.
Tenho medo.

Lembro que consegui duas vezes já.
Faz muito tempo.
Depois disso fiquei sentado,
Olhando.
Sentado no píer do contentamento.

Acho que o Mar está brincando comigo.
Sim, ele está brincando.
Ele chega perto, beija meus pés.
Como se me chamasse.

É, o Mar está flertando comigo.
Não é que eu já não tenha pulado recentemente.
O álcool faz isso comigo.
Muda-me.
Ele me fez pular,
Mas o Mar se recolheu.
Deixou apenas areia molhada.
Apenas o gosto da ilusão.

Canso-me apenas de olhar,
Já que tantos mares já perdi.
E sereias deixei de abraçar.
De acarinhar.

Definitivamente o Mar está de pilhéria comigo,
Não de uma maneira ruim.
Está me ensinando.
Fazendo-me com que pule na hora certa.

Quando os corais que machucam não estarão,
Quando haverão as sereias certas.
Quando o sal já não machucará meus olhos.

Aí mais uma desculpa do meu medo!
Hei de pular de novo um dia.
Sóbrio.
Ou até escorregarei e cairei.
Desde que no Mar eu fique.
E não deixe nunca mais.

 Gabriel Vitor Tortejada

08 setembro, 2009

Triste Terça-Feira

O celular tocava naquela manhã uma música a qual Leo adorava. Não lhe agradou, entretanto, por ser o despertar de um dia que não queria acordar. “Tempo Perdido”, eis a música que tinha significado completamente ignorado por ele que queria perder aquela terça-feira na cama.

Levantando-se apesar de tudo tomou banho, café e o rumo aos ônibus lotados que o esperavam para levá-lo ao seu destino. Acabara de voltar de um feriado e a ressaca batia forte. O sono também. Já estava conformado com o aperto do lugar e não refletia nenhuma expressão sequer, ao contrário dos outros que partilhavam o desconforto. “Estão exagerando”, pensava.

Naqueles corredores passava de cabeça baixa e rosto sério. Entregava-se ao silêncio durante seis horas seguidas. Talvez mais, menos. Prestava atenção, ria quando podia, lia seu livro e ficava sempre só. Assim se passou meio ano até aquela terça-feira. Ocorria tudo da mesma forma. Não havia nenhum rosto nas faces dos colegas. Simplesmente nada significavam para ele.

Voltou para casa em um ônibus um pouco mais vazio. Aquilo o satisfez pelo dia, conseguiu sentar e estava lendo seu livro. Pensava sempre em como havia parado lá. Como havia esquecido os outros, a necessidade de interação humana.

Chegou, comeu e se deitou. Seus olhos fecharam em simples prazer. Descansava enquanto a vida deixava seu corpo. Faleceu na tarde de terça tornando aquele só mais um dia. Morreu do coração. Ou talvez por falta de um.

Gabriel Vitor Tortejada

06 setembro, 2009

Não me digas que não sabes fazer poesia,
Assim como não digo que não sei profetizar;
Pois poesia não se faz com um lápis em punho,
Ou um papel que se dá a ser escrito.
Faz-se com a alma a se viver a todo o momento.

Não negues que já fez poesia,
Pois teu olhar te incrimina,
E nele acho palavras que apenas traduzo,
E és tu que anuncia.

O poeta é um tradutor,
Daqueles que vê o que outros não,
Que traz das lágrimas a maldita impressão de beleza.
Não me dê, ou a outros, motivos para se vangloriar.
O poeta é um ladrão e disso não passará.

Gabriel Vitor Tortejada

24 agosto, 2009

O Ladrão de Ases

João Xingote era um menino despreocupado. Escondia por trás de sua natureza galanteadora e pícara uma pessoa que naquele bairro ninguém sonharia em ver. Era um sujeito lido e culto, algo que não gostava de mostrar, já que não se valorizava nada disso na época. João do Ás, assim que era mais conhecido por suas trapaças em jogos de cartas e grande impulso de roubar um às de espadas que qualquer baralho a seu alcance.

Sua barba rala ocultava sua idade. Tinha 18, diziam 15, o que era muito vantajoso na hora de seus golpes em idosas. Veio de boa família, mas se esforçava em não aparentar, pois nada lhe trazia tanto prazer como colecionar reais aqui e ali. Dinheiro era um de seus dois pontos fracos. O outro? A insensibilidade quanto o amor que ele mesmo assumia, para si apenas.

Dentre suas maiores conquistas está a luxúria consumada com Joana Alevina, que se arrependeu logo em seguida da maneira que se espalhou tal verdade. A mulher, com seus 37 anos, era viúva e sedenta por amor jovial. E não era raro conseguir, já que o quanto de experiência tinha também de formosura. A graça que tinha ao desfilar pelas ruas do bairro de Santa Cecília era de se admirar, deixava caídos os queixos dos homens e explodia a inveja/ciúmes das mulheres. Seu aroma de rosas ficava em qualquer lugar que passasse. Não é visão de moléstia que merece por se entregar a João, mas sim digna de compreensão, já que a imagem que era para o público masculino, ele era também para o feminino, principalmente as jovens levando-se a considerar que as casadas não eram muito adeptas do adultério.

Nessa postagem pedirei que comentem, estou inseguro quanto ao decorrer dessa história e se devo continuar nesse tipo de linguagem que é nova para mim. Essa experiência decorreu da minha leitura de Capitães da Areia - Jorge Amado. Continuarei a história da mesma maneira, mas quero opiniões.. =)

07 agosto, 2009

Simplesmente não sei

Na síntese do amor
Digo coisas que não entendo,
E entendo palavras que não sei dizer.

Sinto em minha alma ausente,
As confusões de alguém inexperiente,
Que ao vento são jogadas a se perder.

Do amor não conheço o que se sente,
Mas sim o que se vê.
A dor compartilho com inconseqüentes
Que, como eles,
Oportunidades levei a me vender.

Carne e sangue em mim pulsam,
Como o humano que provo ser.
Em rios, sentimentos batem em minha mente,
E sem reconhecer, deles não sei escrever.

Gabriel Vitor Tortejada

21 julho, 2009

Do Arrependimento

Do momento em que me apóio no parapeito, me dá aquela vontade que nunca pensei que teria. Apesar de justificável é simplesmente errado. Olho fixamente para o chão lá longe de mim, ansiando provar do gosto daquele concreto. Prová-lo com todas as partes do meu corpo.

Atravesso o apoio, fico firme por alguns centímetros de chão. As pessoas ficam muito pequenas do vigésimo andar. “Será indolor, é alto demais para que eu sofra algo, será instantâneo”. O vento gelado é uma prévia da breve queda que posso ter, calmo, bom e apavorante. Por um momento posso me sentir livre de tudo, frustrações, dores e arrependimentos. Ainda que não esperando nada depois, parece-me valer a pena.

As lágrimas que prevejo quase me fazem mudar de idéia. É um pouco doloroso imaginar que você causa dor nos quais eu protegi por toda vida. Algo que já senti e não desejo para ninguém. Minhas crianças ficarão desoladas, minha mulher será forte. Terá de ser. Apesar de odiar tudo até hoje posso dizer que amor eu já senti, mas não é o suficiente.

A raiva e o ódio são muito presentes em mim, mesmo não valendo a pena. O vazio, o escuro, o nada. Dentro de mim não sinto nada, nenhum motivo que me faça querer seguir em frente, que me torne feliz. Felicidade momentânea é muito presente em toda a minha história, mas nada fixo. Não assumo minha vida nesse sentimento, simplesmente estaria mentindo.

Sinto um toque na minha mão, é meu irmão, e está tentando me convencer a sair da borda do terraço, desistir de qualquer coisa que eu quisesse fazer naquela hora. Como ele sabe o que eu estou pensando agora? Respondo com um soco em seu nariz e ficar apoiado em uma só mão. Por incrível que pareça estou extremamente calmo.

Nesse momento já se juntaram muitas pessoas junto ao prédio. Gente gosta de ver a desgraça alheia, não conseguem achar nada mais interessante para fazer além de espiar a vida de outros, ou a morte. Já consigo sentir o toque gélido da morte em meu rosto, a essência que tanto me inspirou por toda a minha vida existe. Não sei se é da minha cabeça, mas a sensação é real.

Ao fechar os olhos minha barriga gela, solto minha mão remanescente e inclino-me aos poucos em direção ao vão. Ao cair todo o meu corpo treme, minha espinha congela, estou ficando mais rápido, o medo me domina como um soco no estômago. “Isso não é nem um pouco parecido com liberdade”, lágrimas chegam aos meus olhos junto com o arrependimento. O que será de mim agora? Algum deus? Nada? O pânico me domina nos últimos segundos antes da calçada. Solto um grito tímido, imagens boas passam pela minha cabeça, imagens de minha família, de meus amores, meus prazeres. Fui covarde.

Gabriel Vitor Tortejada

29 junho, 2009

Sem cores ou formas

Às vezes em quatro paredes
Atenho-me perene ao modo de cantar
Sozinho, em tom desafinado,
Com olhos fechados entrego-me a pensar.
Se o amor é tão errado,
Por que tantos a ele querem se entregar?

Talvez o mundo simplesmente
E tão brevemente se esqueça de lembrar,
Que o tempo em que fiquei calado
Quase sendo levado junto desse mar,
Eu tenha ficado de lado
Pensando em pecado e querendo amar.

Sua silhueta passa por mim,
De modo que eu não a possa enxergar.
Sentado, em canto arrojado,
Por dentro, mantenho-me a gritar.
De meu olhar inabalado,
Seu rosto insiste em se desviar.

Às vezes, em minhas centenas
De simples tristezas passo-lhe a falar.
Em jogos de um ser alado
De lábio cerrado venho-lhe a lembrar.
Amor, mesmo não apresentado
E inacabado quero partilhar.

Gabriel Vitor Tortejada

21 junho, 2009

Plumas de inverno

O sol brilhava timidamente por detrás das tantas nuvens daquele dia. Não era quente, não era amarelo. A brancura era imensa, a beleza envergonhada, ninguém a via. Mas o fenômeno fatídico aconteceu às 15 horas daquele mesmo dia, em uma movimentada avenida.

Ao longe viam-se pequenos pontos lilases se aproximando do solo. O fenômeno demorou, mas tive paciência de esperar. Valeu a pena. Aos poucos o ar foi se tornando carregado, a tonalidade do ambiente estava mudando. Aos poucos a rua inteira estava roxa. Ninguém via.

As plumas cortavam lenta e suavemente o ar gelado de inverno. Nesse momento já estavam na altura dos prédios, mas consegui distingui-las facilmente. Pude perceber que ao encostar em paredes ou janelas, elas sumiam deixando um breve clarão em seu lugar. “Vai ser rápido”, pensei. Ainda assim ninguém via.

Enfim pude tocá-las, era algo diferente, uma sensação maravilhosa, talvez algum tipo de êxtase. Estiquei a mão para a primeira que se aproximou de mim, senti que ela dissolveu em minha mão, como antes, se transformou em um feixe de luz cegante que logo desapareceu. Ao toque senti um arrepio, à luz, felicidade e ao desaparecimento, vontade de mais. Logo meu corpo estava sento atingido por todas as partes. Era completamente viciante. Sensacional. Ninguém me via.

Assim que as plumas começaram a acertar todos finalmente percebi algumas reações, mas apenas crianças ou idosos, o que era mais estranho. Eles olhavam completamente maravilhados para o que lhes acontecia, alguns fechavam os olhos de felicidade, outros gritavam de contentamento. Os adultos simplesmente ignoravam, coçavam onde eram acertados, resmungavam baixo, abriam guarda-chuvas ou se protegiam em coberturas sem nunca olhar para cima. Esses não viam nada, ou ao menos não queriam ver.

Quando tudo acabou senti uma das maiores tristezas que já tive. Senti vontade de chorar, mas me aguentei. Queria mais daquilo, não queria que acabasse. Acabou. Olhando em volta, era perceptível uma depressão geral. Os que uma vez aproveitaram o momento choravam assim como os que o ignoraram. Essa reação demorou muito para acabar, mas enfim acabou. Nem todos viram, mas sentiram.

Por toda minha vida procurei ter aquilo de novo, substituir até, o que é óbvio que não conseguirei. Entretanto não é só porque não sentirei aquelas plumas mágicas me tocando novamente que não procurarei outras formas de prazer, similares ou não. Sou grato por ter notado o que acontecia, pois apesar de ter sentido a falta e a tristeza, pude aproveitar o momento, do contrário de outros. O que importa afinal é que eu vi.


Gabriel Vitor Tortejada

09 junho, 2009

Entre praças e campos

Ouve-se a música dos menestréis
Tocar ao som da natureza,
Na busca de paz,
Vêem bobos da corte,
Assumidos ou não,
Festejando a glória de sangue.

Bolas píricas dançando
Ao talento dos bufões.
Deboches e piadas.
Alguns se rendem,
Ao riso hipócrita.

E também o tilintar de espadas
Em representação alegórica,
Tentativa de cômica,
Dos rubros banhos,
Dos campos da morte.

Enquanto longe lutam guerreiros,
Morrendo e suando,
Buscando a glória,
Onde não há.

Gabriel Vitor Tortejada

04 junho, 2009

Breve Torpor

Sonhei com anjos cantando à minha janela,
Acontece que era apenas um pássaro,
Que cantava lindamente,
De maneira hipnotizante.

Naquela noite fria sussurrava,
O canto me controlava,
E as luzes que lá não estavam,
Pelo som passei a observar.

Um raio de luz passou em turbilhão,
Talvez um novo caminho verei,
Não sei se me curou, me fez esquecer.

Por um breve momento,
Sua beleza me tragou
Por mares que muitas vezes vi,
E pouco naveguei.

Gabriel Vitor Tortejada

30 maio, 2009

Perdi-me tempos atrás,
Não há como achar,
Senti-me como agora,
Não agüento facilmente.

Não sinto minha dor,
Mas choro por ela.
Agonizo em vão,
Não vejo nada para isso.

A confusão de uma dor,
Um aperto sem explicação,
Uma mágoa sem sentido

Caminho seguindo uma batida,
Um ritmo sem compasso,
É meu coração sem razão.

16 maio, 2009

Em busca de inspiração

Olhava sem esperanças para a tela branca, o que mais resta em minha mente? Pensava, nunca havia passando tanto tempo sem apresentar novos trabalhos, parecia que todos os seus sentimentos haviam sido sugados, ou melhor, todos se concentravam em apenas um acontecimento, em um nome, em uma ação.

Naquela noite sentia-se o pior dos amantes. Havia sem intenção, sem a menor intenção, deixado aquela garota confusa. Era interessante como nunca havia ligado para isso antes, mas aquilo era errado, não só com ela mas com os seus próprios sentimentos. Não é mentira que a desejava, mas não conseguia acreditar que algo assim poderia ocorrer tão tardiamente. Suas veias pulsavam magma, sentia-se quente, seu coração doía de calor, dor sem igual. Daquelas quais ele lembra-se querer, o desejo não estava mais ali presente, com ela ou sozinho. Mas a havia perdido, sozinho então.

Não conseguia pintar mais, apenas pensava nela. Aquele não era tempo para confusão, era tempo para certezas. A havia perdido, nada mais a fazer além de continuar, mesmo sabendo que aquele singelo órgão que bombeia sangue doía como nunca. Concentração, concentração. Apena borrões de tinta, eis então que surge a idéia, refletir o que sentia, de maneira mais explícita o possível, sem perder a sutileza.

Uma mulher de vestido, vestido enorme, cheio de babados, de costas para quem vê. O vestido é rosa, o corpo levemente inclinado para a direita proporcionando uma perfeita visão de o que a mulher estava segurando com a respectiva mão: Um coração flamejante, escorrendo lava e cuspindo fogo. O resto, escuro.

Gabriel Vitor Tortejada

19 abril, 2009

Quero amar,
Ser amado.
Solidão dói,
É congelante.

Meu amor existe,
É um mecanismo
Sem alavanca de acesso.

Poderia ter amado,
Mas a cabeça rejeitou incerta
E o coração silenciou-se então.

Quero alguém por toda a vida,
Que me entenda,
Chore e ria comigo,
Que seja sarcástico,
E que ironize o quão difícil é a vida.

Quero a mim,
Mas eu já não me sou o suficiente,
Minha solidão me congela, endurece
Perco-me vagarosamente,
Morro aos poucos.

Quero me afogar de amores,
Embriagar-me de paixão,
Flutuar em êxtase
Esse, que dessa vez, seria real.

“Alguém me disse
Que há uma garota por aí,
Com amor nos olhos
E flores no cabelo.”

Gabriel Vitor Tortejada


Última estrofe é uma paráfrase traduzida de um trecho da música Going to California da banda Led Zeppelin.

07 abril, 2009

Pensamento aleatório

- O que você ganha com o câncer?
Pergunto intimamente para a minha amiga diária.
- Diversão.
Responde a morte ironicamente.
- E com o suicídio?
- Uma vitória.
- E o que você espera enquanto me observa todos os dias incessantemente?
- Uma grande partida da qual sei que serei o vencedor.
- Você sabe que não me entregarei facilmente.
- Não espero nada menos de um grande jogador.

Vale assinar?

23 março, 2009

Por detrás de minhas máscaras


Naquela noite que parecia sem fim, notícias ruins acumulavam-se no ar. Não me julgue pela minha resposta instantânea ou reação inesperada, o dia que tive não foi dos melhores. Tenhas certeza que mal desejo para alguns, mas para ti, nunca. Não te desesperes por minhas respostas monossilábicas e frases secas, eu sou assim em algumas ocasiões e, quase sempre, sem explicação.
Não te atormentes pelo que penso ou sinto, sou egoísta demais, o que te dá o direito de seres comigo também, mas tenho certeza que não serás. Acho que a palavra conformismo foi mal usada e um pouco exagerada, digamos que acostumar fica melhor colocada.
Entendas que às vezes sou irracional e desumano, maneira de esconder o quão frágil posso ser por dentro, o quanto de falar que não sinto, sinto duas vezes mais. Não acredites naquele “Eu” que diz que nunca amou ou irá amar, talvez ame ou já tenha amado, mas ainda não hei descoberto.

Gabriel Vitor Tortejada

18 março, 2009

Timidez

Falta-me impulso.
Seus olhos e gestos flertam comigo,
Implorando por algumas palavras.

Vontade não falta,
Observar já se torna incômodo,
Volta o antigo problema da maldita timidez.

O meu silêncio se revolta querendo cessar,
Minha boca gritar
E os olhos cerrar.

Não acho justo o jeito que sou,
Como me tornei?
Não sei,
Mas mudar se torna mais difícil do que imaginar.

Tem vezes que penso na outra.
O que ela mudou em mim?
Por que não posso repetir o que já fiz?
Se conhecer não é difícil,
Pergunto-me porque não consigo.

Acho interessante como sou.
Não importa onde ou como,
Não importa como pensarei,
Mas encontro sempre maneiras de me torturar.

Gabriel Vitor Tortejada

11 março, 2009

Tédio

Ah! Que vontade da morte.
Como o tédio corrói.
Invade cada pedaço meu de paciência
E me agoniza com loucura.

Olho para os ponteiros,
Parece-me que andam para trás.
Minha percepção se corrompe
E o tempo conspira contra mim.

O sadismo de um suposto Deus,
Que apenas observa minha silenciosa tortura.
Sofro em língua estrangeira,
Ecos da memória vindo da realidade.

Como dói saber que acontecerá de novo,
Semana após semana,
Entregando-me à loucura
Que hoje, é meu ponto de equilíbrio.

Gabriel Vitor Tortejada

23 fevereiro, 2009

Inconstância no Refúgio

Naquela solidão quente e úmida,
Sentimentos completos de serenidade
Acumulavam-se no ar.

O sol batia quente,
Sensações inconstantes emergiam
Desse repleto e quieto limbo.

Seu coração batia em tom de poesia,
Mas, em severo mundo, não havia meios de escrevê-la.
Achaste, entretando.

Não sentia-se o mesmo,
Não procurava mais a escuridão,
Da dor, sentia-se liberto.

Deveria ser euforia do momento,
Conforto seria sua salvaguarda?
Até que na próxima,
Voltaria às suas musas e sua perdição.

Gabriel Vitor Tortejada

06 fevereiro, 2009

Na sarjeta

Vivemos nas esquinas imundas,
De um poço de ganância,
Vivemos à beira,
De algo que despreza.

Não reclamamos de nossa vida,
Muitos de nós nunca conheceram outra,
Outros escolheram essa.

Vivemos de dor e paixão,
Fome e desgraça,
Encontramos força para resistir,
Ao que parece impossível.

Não pedimos sua pena,
Seu dinheiro.
Pedimos sua compreensão.

Estamos aqui,
Porque alguém tem de estar.
Por mais que tentamos,
Não merecemos os objetivos que enfrentamos.

Às vezes é mais fácil se render,
Ao curso de nossa natureza,
Que para a raça humana,
Injustiça é a principal característica.

É mais fácil aceitar que somos o vírus,
Aquele que mata,
Sobrevive,
E sempre encontra uma maneira de se torturar.

Somos felizes do jeito que somos,
Não somos cegos,
Não vemos cores.

Se há algo de bom para se ver,
É que cada um de nós
Um dia irá morrer.

Gabriel Vitor Tortejada

08 janeiro, 2009

Reminder

Hoje decidi escrever algo. Não sei se é por causa da minha doença ou algo mais, mas resolvi que não gostaria de ser esquecido. Quero deixar uma história, algo meu. Normalmente dizem que uma pessoa atinge a imortalidade ao fazer algo notável, memorável. Essa é minha única tentativa, com lápis em punho e papel branco tento deixar alguma marca nessa minha história.

Admito que vivi mais do que eu e outros esperavam. Minha vida não teve altos e baixos, não teve grande história, mas posso citar algumas passagens que me deixaram com o coração na boca. 77 anos, quem acreditaria nessa idade para alguém que viveu na promiscuidade?

Já li muito na minha vida para dizer que a figura do pai geralmente é muito importante para esse tipo de história. Vou lhe falar sobre o meu, que fez um papel grande, mas não importante. Autoritário e ranzinza, brincalhão, quando estava sóbrio. Bêbado era rude e violento, me batia e violentava a minha mãe, porém, ela sempre dizia: “Não vou deixá-lo meu filho, a gente não escolhe quem ama.” Agente não escolhe quem ama... Pura besteira, eu acreditava.

Saí de casa aos 17 e um ano depois ele morreu. Não fui ao enterro. Mas voltando um pouco no tempo, vamos falar da minha promiscuidade. De meus vícios, quatro no total, mulheres, bebida, cigarro e ópio. Em que lugar eu vivo? Cabe à você julgar, não vou descrever lugares nem citar nomes, acho que assim a imaginação corre melhor. Comecei a beber com 14 anos, cigarro, com 16, ópio, 17. Sempre andei nos grupinhos dos descolados, dos caras legais, mas o que não dizem é que são os caras legais que fazem as piores coisas, e eles me levaram junto.

Acabara de sair de casa, estava me sentindo adulto, trabalhando em banco, morando sozinho. Nessa época me tornei um galanteador, o Casanova do meu grupo. Saia cada noite com uma mulher diferente, às vezes duas, as levava para a cama e dispensava depois. Chamavam-me de coração de pedra, gelado. Não ligava para ninguém, e assim que eu consegui subir na vida, não ligando e passando por cima de outros para conquistar meu dinheiro e prestígio.

Com 30 anos eu tinha tudo o que queria, casa, carro, dinheiro, mulheres. Meu dom de manipulação e sangue frio me deram muitos frutos. Mas com essa idade não havia aprendido nada, ainda era imaturo, a mesma mentalidade daquele garoto 13 anos atrás. Até que conheci Ela. A mulher mais apaixonantemente perversa que eu já havia visto. Eu posso até não ter créditos para dizer isso, mas ela era má. Eu me apaixonei por ela.

Soube conhecer, conquistar e amar. Tornei-me seu amante, e logo, seu marido. Sim, nos casamos. Tudo o que ela queria. Soube que ela teve amantes, não ligava, nada me interessava mais do que estar perto dela, aliás, também tinha minha cota. Até que uma situação específica me deu a sensação de um mau presságio. Em uma das minhas rotineiras idas à padaria de manhã, bem de manhãzinha, me deparo com um beco escuro e gritos vindos de lá. Prossigo com cautela para averiguar o que acontece, ando na sombra, quase invisível. Lá está uma mulher, semi despida, roupas rasgadas, lutando por liberdade nos braços de um homem que a dominava com uma faca. Lágrimas escorriam por aquele rosto, e lia bem a expressão em seus olhos: Pânico. Nojo. Total e completo nojo me toma e me faz vomitar. Vomito no chão, minhas pernas tremem e volto ao meu caminho em direção à padaria amaldiçoando a minha falta de coragem.

Noites e noites passei imaginando como seria se eu tivesse apartado o estupro, se eu tivesse gritado, feito algo. Sufocava-me em meu travesseiro, recusava carícias de minha mulher e minhas amantes. Estressava-me cada vez que via a conta do cartão de crédito, enlouquecia cada vez que via uma faca. Estava enlouquecendo.

Algo me trouxe a sanidade, temporária ao menos. Uma noite, casa vazia, um copo de conhaque e uma dose de arsênico. O plano era perfeito, uma morte rápida. Eu não agüentava mais a dor na consciência. Prestes a tomar o meu gole fatal o telefone toca, é o chefe de polícia. Minha esposa havia morrido.Pela primeira vez em anos chorei. Chorei até não poder mais, até não agüentar a mim mesmo. Joguei o copo contra a parede e desmaiei de sono por sobre a mesa, caçaria o desgraçado do amante que a espancara até a morte, o procuraria até o inferno.

Os próximos meses foram pura fúria. Contratei os melhores investigadores particulares, comprei as melhores pistolas de uso pessoal e principalmente, comprei um soco inglês que jurei que só tiraria da mão quando estivesse coberto por sangue, pelo sangue daquele que arrancou meu coração do peito.

Existem pessoas que não nascem com certos instintos. E certamente eu não havia nascido com homicídio em minhas veias, e só fui descobrir isso quando finalmente tirei o soco inglês de minhas mãos, cheio de sangue. Via o homem que odiava deitado no chão, à minha frente. Encoberto por seu próprio sangue, o homem respirava com dificuldade, quase se afogando em seus próprios fluidos. Minha arma estava apontada para sua cabeça, mas tudo o que eu podia ver era a expressão de pânico em seu rosto, as lágrimas de seus olhos azuis. Minhas pernas tremeram. Lembrei-me daquela mulher. Deixei a casa do homem e fui me embriagar em casa.

Há quem possa dizer que fui covarde por duas vezes. Na verdade não. Fui humano na primeira, deixei-me levar pelas emoções, permiti que o medo prevalecesse ao instinto. Na segunda não sei o que foi. Covardia não foi, humanidade também não pois pena foi uma coisa que não senti na frente dele. Posso ter sido covarde, não importa. Mas ainda me pergunto. E se eu tivesse ajudado a mulher do beco?

Gabriel Vitor Tortejada