04 novembro, 2010

Nazismo e outras brilhantes façanhas


Qual o limite da mediocridade e ignorância de uma população que se considera a elite intelectual do país? E não leve mediocridade como está nos dicionários, leve pelo lado pejorativo que esse termo recebeu na linguagem oral. Parece que a competitividade das pessoas se tornou algo muito sério, daqui a pouco se torna uma patologia. A briga por partidos e ideais se tornou ainda maior do que a ideologia nos permite chegar hoje em dia, e a briga acaba por trazer consigo uma xenofobia (se é que se pode falar isso de pessoas do próprio país) e um preconceito enormes. O que leva uma adolescente a postar na internet mensagens de ódio e desrespeito por uma população ligeiramente diferente da dela? O que a difere dos movimentos totalitários que existiam na Europa na primeira metade do século XX? Saibam que um grande movimento desses surgiu de um partido político, o Partido Nacional Socialista. Essas palavras lhes lembram algo? Esse partido graças à sonoridade alemã ficou mais conhecido como Partido Nazista.
            O que houve? Há algo de errado com o seu estômago? Com o meu também, mas não com as atrocidades que os nazistas cometeram com os judeus, - que moravam no mesmo país que eles - mas com a pregação de ódio que estão fazendo hoje em dia com os mesmos ideais e objetivos pelos quais lutava um dos homens mais odiados da história. Como pode uma geração que foi acostumada a olhar para esses homens de maneira odiosa seguir seu exemplo? Isso é algo que não passa pela minha cabeça de nenhuma maneira.
            Pelo que nossos pais ou avós lutaram nas décadas de 60 e 70? Por liberdade? Por democracia? Bom, nada é perfeito, mas isso é o máximo de democracia que conseguimos em décadas. É o máximo de liberdade que podemos ter considerando os tempos atuais. Qual o problema da democracia? A maioria das pessoas não consegue viver democraticamente por causa de seus egoísmos constantes. Acha exagero, besteira? Então porque você simplesmente não luta pela democracia e aceita a escolha popular? Para de criticar pela batalha vencida e deposite seus olhos e críticas para o governo que vier. Deposite sua confiança, e cobre de volta por ela, pois assim que você consegue fazer com que um país vá para frente.
            Sim, nessas eleições eu votei no candidato derrotado. E com certeza votaria de novo, mas não me considero vencido. Eu considero que o candidato que mais se assemelhava aos meus pensamentos acabou por ser derrotado e eu não vou gritar por isso, pois não é vinha vida que vai desmoronar por uma mudança política. E você que teve seu candidato vencedor, não se acomode. Não é porque você escolheu essa pessoa para estar no poder que quer dizer que você vá gostar de tudo que ela vai fazer, cobre, lute, grite. Não aceite as coisas como vão ser. Tente fazer parte desse pequeno futuro.
            É assim que se faz política, escolhendo que mais te agrada e lutando para que o que você queira aconteça. Pois nenhum homem ou mulher de terno pode nos impedir de conseguirmos o que queremos, apenas a nossa falha ao agir. Ouvi há muito tempo uma frase em um filme que se encaixa nesse perfil. Vou optar pela versão na qual o protagonista do filme discorda, mas eu concordo plenamente: “(...)o mal prevalece quando os bons homens falham em agir”. E esse mal não é o diabo ou a maldade, é a situação que te causa desespero e sofrimento.
 
Gabriel Vitor Tortejada

25 outubro, 2010

Daquilo que não entendo

Sou profano à maneira que devo ser
Tão terreno e seguro.
Frio assim como a lua
e morto assim como a rocha.

És sagrada de maneira que não entendo,
Fazes-me venerar-te,
És quente como o sol
E viva como os anjos.

Não sei ao certo como juntá-los,
O profano e o sagrado,
O céu e a terra,
A lua e o sol.
Mas até agora fiz com sucesso.
São nos clichês que nasce a poesia.

Gabriel Vitor Tortejada

06 outubro, 2010

As viagens dos sem mundo

Bom, faz um tempinho que eu não posto nem escrevo algo novo, então vou postar uma coisa que já estou escrevendo há um tempo:

Prólogo


Aos poucos o carro funerário se afastava de onde Gabriel estava. Aquele havia sido um dia ruim, possivelmente o pior. Uma mulher em um terno feminino azul marinho, de segunda mão, segurava sua mão com profissionalismo. Ela já havia feito aquilo várias vezes antes. O coração do garoto pulava no peito enquanto seu cérebro ainda não tinha digerido tudo o que acontecera. Era inaceitável, imponderável. Ele ainda não chorara. Talvez porque ainda não sentira sua falta. Às vezes demora um pouco para que as pessoas realmente sintam falta de alguém que perderam. Esse era o caso dele.
            Aos 11 anos ele já era muito maduro para a sua idade. Já se acostumara com o fato da morte desde os nove. Sabia que sua mãe não duraria muito e deveria estar preparado para aquilo. Chorara na noite do diagnóstico e prometeu a si mesmo que não choraria nunca mais, que provaria à sua mãe que era homem, que era o homem que ela deixaria no mundo para cuidar de si mesmo. Uma pessoa que ela poderia deixar sem peso no coração. Apesar de tentar se preparar, ninguém se prepara para um momento desses. É possível dizer que eram muitas informações na cabeça dele, e para se acostumar levaria um tempo.
            A mulher do serviço social intimou-o para entrar e pegar o que pudesse carregar da casa que mais tarde alguém iria lá buscar o restante das coisas importantes para ele. Dirigir-se-iam naquela noite à casa da tia dele – Uma mulher de meia-idade, beata, viúva e caridosa – que o esperava ansiosamente já que tomaria conta dos bens preciosos que ele herdara.
            A porta rangeu como sempre. Antigamente era um rangido amigável, quase que um bem-vindo ao lar, mas especificamente naquela ocasião incomodou Gabriel um pouco. Aquele ambiente onde acabara de acontecer um velório o incomodava muito. Apesar de todos os sentidos dizerem-lhe o contrário, continuou andando com esmero pelo piso de taco brilhante da casa até chegar ao pé da escada. Sabia que aquela seria a última das subidas para o segundo andar. E não seria com a felicidade usual, com os semi-pulinhos de alegria e de mãos dadas com a mulher que mais amava em todo o mundo.
            O quarto dele pouco importava. Não se preocupou ao menos em abrir a porta e dar uma última olhada. Dirigiu-se diretamente ao quarto da mãe – lá embaixo a mulher impaciente apressava-o com alguns fonemas animalescos. Várias fotos distribuíam-se por todas as estantes do vasto quarto. Fotos dos dois, fotos de felicidade. Olhou diretamente para a escrivaninha de trabalho dela. Aquela era uma visão estranha, estava completamente arrumada e sem nenhuma mancha. A maleta com todas as tintas e lápis da mãe estavam lá esperando para serem pegos. E foram. Agarrou também um porta-retrato com uma foto dos dois e notou algo estranho. Tinha uma estante com uma gaveta no canto e estava sempre trancada. A chave estava na tranca naquele dia.
            A curiosidade tomou-o de uma maneira interessante. A mãe sempre pedira para que ele não mexesse naquela gaveta, e sua fidelidade sempre fora incorruptível até aquele dia. Aproximou-se com cuidado, girou a chave ouvindo o ruído com prazer e deslizou calmamente a pequena gaveta. Os grunhidos da moça que o acompanhava começavam a se tornar incômodos e resolveu apressar-se. Só tinha um livro de tamanho razoável dentro do compartimento; acabamento antigo e sem título. Era verde musgo e linhas douradas o contornavam por inteiro. Tomou-o para si colocando na mochila que carregava nas costas.

            A casa da tia não era nada do que imaginava. Não era nem casa! Viu de longe um grande monumento que primeiramente pensou ser um dos totens de uma das histórias de sua mãe. “É muito largo para ser um”, pensou em voz alta. Um grande retângulo alto com muitos retangulinhos menores e paralelos por toda a lateral. Ele não imaginava como alguém poderia morar em um lugar assim. Imaginava se havia uma casa no topo desse monumento, e se tivesse como chegaria até lá. Convenhamos, era muito alto.
            Logo descobriu que aquele lugar era oco e chamavam de prédio. Para alguém que morou nos subúrbios e tinha estudado a vida inteira em casa com a mãe, não teve contato com tudo aquilo. Mas lembrou que já tinha ouvido falar daquele tipo de construção, mas imaginava algo um pouco mais bonito. Alguma coisa como as figuras da arquitetura romana que via com a mãe.
            Entraram os dois, Gabriel e a assistente social, numa caixa que se movia de cima a baixo. Era um elevador. Ele se sentia extremamente incomodado com aquele ambiente, era assustador. Chegaram a um corredor extenso cheio de portas, era sujo, cinza. Por todos os lados fixados à parede extintores de incêndio eram vistos – sabia o que era pois a mãe desenhara um uma vez.
            A porta escolhida estava toda manchada, tons de madeira mudavam de dégradé por causa da umidade do lugar. Reluzia na porta o número do apartamento: 137. Dois números do azar em uma só porta, só podia ser brincadeira. O barulho seco das batidas da mulher ecoou por todo o corredor até a tia em si abrir a porta. Muita gente podia dizer muito bem de muita coisa da Tia Anastácia, mas se existia uma coisa que faltava nela era beleza. A criança não entendia como uma pessoa poderia ter um nariz tão grande e ao mesmo tempo olhos tão pequenos. Uma senhora idosa com cara de bruxa, isso sim era ela.
            - Ele está em suas mãos, – disse a assistente social - essa semana volto para dar uma olhada em vocês e para finalizar a papelada da guarda.
            “Semana?! Guarda?!”, sentiu-se completamente consternado. Passaria uma semana naquela casa e ainda por cima depois ficaria para sempre. Definitivamente morar em um totem não estava em um dos seus pouco gananciosos planos. Anastácia guiou-o para onde disse que seria seu quarto. Uma cama, uma cômoda e um baú velho. Em cima da cômoda havia todo o tipo de acessórios cor-de-rosa como escovas para cabelo, elásticos, esmaltes, pó facial. “Quarto de menina”.
            - Tia, de quem é esse quarto?
            - É da sua prima, Gabriel, mas não se preocupe, ela irá dormir no quarto do irmão para que você tenha um pouco mais de privacidade.
            Não me admira que os problemas começaram nesse meio tempo. Gabriel mesmo achou que aquilo não seria uma boa idéia. A idéia de fugir de um lugar que ele mal chegara era muito sedutora em sua cabeça, mas decidiu ver até onde as coisas iriam e como iria viver naquela casa com pessoas que costumava ver uma vez ao ano. Mas ainda assim sentiu como se tomar aquele quarto para si não seria uma boa idéia para si ou para alguém.
            Tia Anastácia deixou-o sozinho no quarto com sua mala para que se instalasse. Pegou os últimos traços de menina daquele quarto e jogou num grande saco de lixo. Sentiu pena da menina a qual acabara de roubar o quarto, ela perderia sua privacidade e seus brinquedos.
            A mala foi aberta por um motivo único, para que ele pegasse o retrato que havia recuperado de casa. Deitou-se na cama com o retrato apertado ao peito, ouviu-se um grande ruído de molas no ato, algumas lágrimas escorreram pelo rosto pálido e magro do garoto e os olhos foram se fechando aos poucos. Sem nenhuma intenção acabou adormecendo naquele quarto estranho e indiferente da rua Vieira Diniz 66, no bairro de São Vicente, na cidade de Santa Cecília e na República de Todos os Santos.


Gabriel Vitor Tortejada

26 agosto, 2010

Da Liberdade


Afasta-te de mim, sonhar tão são!
Não mais ao teu olhar tão frio por perto!
De mim a morte queres? És em vão!
Meu amor roubar? Não estejas tão certo.

Ah! Razão injusta que assola meu mundo!
Cansei de pensamentos calculistas,
Do pessimismo que destrói bem fundo
E o que mais machuca, minhas palavras.

Metafísica me atrai como nunca.
Minha frieza, que agora caduca,
Entrego sem piedade para as fúrias!

Sem nenhuma métrica sem sentido,
Esquecerei do coração partido
E irei para as noites enluaradas!


Gabriel Vitor Tortejada & Athina Liane Moraes

09 agosto, 2010

Indagações da Madrugada

           Uma dor intensa abate meu coração intensamente essa noite. Uma dor avassaladora e incontrolável que só vem por um motivo: Sensação de impotência. Diante de coisas costumeiras que pessoas se habituaram a ignorar repartem meu ego em milhões de pedaços fazendo-me sentir a pior pessoa que existe nesse mundo repleto de hipocrisia. Sentir-se o pior dos hipócritas não é algo agradável.
            Quais são as impotências as quais me refiro? A falta de 1 soldo para pagar um lanche para a menina que desesperadamente tenta saciar a fome. A falta de ação, idéias para ajudar um cachorro que dorme sozinho em um ponto de ônibus. Tremendo de frio. A sensação de que eu poderia ter feito, ou poderia até fazer algo mais para ajudar um amigo que passa por dificuldades extremas no momento.
            Às vezes eu esqueço que nem todas essas coisas são de minha responsabilidade ou aconteceram por minha causa, mas não é possível para minha pessoa simplesmente ignorar o sofrimento alheio. Seja alguém que eu conheça, que eu não conheça ou simplesmente um ser dócil que não se comunica com a humanidade. Mas há outras coisas que me afligem que sinceramente são de minha responsabilidade.
            A impotência de demonstrar apropriadamente o quanto amo a pessoa que a sociedade chama de minha namorada, que para mim, é muito mais do que simplesmente um rótulo. A fraqueza ao recorrer a um vício mundano recorrendo à desculpa de ter prazer com esse hábito e não podendo largá-lo. E a simples vontade não retribuída de modificar a minha existência e hábito de procrastinação.Mudar às vezes não é fácil, mas querer sem poder é uma dor significante.
            Há coisas que faço de pura hipocrisia também, de uma maneira que se eu não o fizesse, me sentiria mal, tímido. Como aconselhar uma amiga sobre filosofia, teologia, literatura e coisas do gênero tendo certeza que ela mesmo tem maior bagagem e conhecimento do que eu mesmo. Mas, se ela pede o meu conselho, o que devo fazer? Negar?
            A sociedade me impôs máscaras que só me machucam a cada momento de minha vida. A existência me trouxe um comportamental que só me incomoda a cada vez que expiro o ar de meus pulmões. A frustração me proporcionou uma maneira de esconder meus sentimentos para evitar que me machucasse novamente. Assim, ferindo os outros e levantando ira sobre mim mesmo. Cada molécula do meu ser me incomoda, cada pedaço de consciência deseja a inexistência, mas a covardia me impede de seguir meu plano inconsciente.

Gabriel Vitor Tortejada

04 agosto, 2010

Conselhos falidos


            Que motivo você teve para viver hoje? Sério, se você não pôde pensar em nada além de trabalhar e comer, eu tenho pena de você. Agora você me pergunta, que motivos eu tive para viver hoje? Eu diria vários. Mas eu não consigo pensar em nenhum agora, então vamos seguir em frente.
            Você olhou para o céu hoje? Mas não para saber de onde veio aquele barulho, ou para xingar a pomba que acabou de defecar na sua camisa favorita, mas olhar simplesmente por olhar. Para contemplar a infinidade e beleza do há por cima de nós, nada mais. Curioso, acabei de lembrar um dos motivos que eu tive para viver hoje: “Contemple o ignorável.”
            Você deu risada hoje? Claro que sim! Se não, cuidado. Mas, quem você fez rir hoje? De quem você tirou aquele tímido sorriso de obrigado ou aquela gargalhada de contentamento? É, você está sendo egoísta. Há sempre alguém necessitando de sua ajuda e você está aí preocupado com o relatório que deve entregar amanhã, ou o estudo que vai ficar atrasado por mais um dia. Olha aí mais uma coisa que eu fiz hoje, contei uma piada para que precisava ouvi-la. Vamos resumir isso: “Empalhace-se.” Confuso? Pense um pouquinho que entenderá.
            Por quantos mundos você viajou hoje? Nenhum? Cara, você realmente tem problemas. Eu simplesmente perdi a conta. Gibis, televisão, livros, passado, futuro, alternativas... Eu viajei por todos esses só pela minha cabeça, só vendo a minha participação em cada um deles. Usei a imaginação, criei diálogos, materializei personagens. Claro, em minha mente, esquizofrenia não é um mal do qual eu sofro. Vou resumir mais uma vez: “Consuma-se em sua própria imaginação.” Afinal, não são apenas crianças que fazem isso, são os felizes.
            Se elogiou hoje? Nem eu, auto-ajuda não é comigo. Auto-aproveitamento é algo do meu feitio. Aproveitar meu dia e dar valor à minha existência são coisas que eu gosto de fazer. Mas, continuando: Dirigiu acima do limite de velocidade? Sem cinto? Você é um idiota. Isso não é dar valor à vida, e sim arriscar perdê-la por qualquer motivo estúpido. Se seu avô estiver tendo um ataque cardíaco no banco de trás eu o perdôo. Imagina que legal esse pronome em ênclise? Perdôo-o, meu filho. Interessante. Se você quer adrenalina vá a um parque de diversões, se você quer perigo, coma com uma faca com ponta! Não há sentido em se arriscar a perder a existência. Chegamos a mais uma conclusão: “Não se arrisque, idiota!” Afinal, a morte está à espreita o tempo inteiro, para que dá-la uma chance de trabalhar?
            Cansou-se de minha filosofia barata e conselhos ridiculamente positivos? Eu me admiro de você ainda estar lendo esse texto, caro leitor. Estou escrevendo apenas para dividir o que eu faço e passar o tempo. Não faço questão de saber que você não gostou do texto, assim como você não deveria ligar para minha opinião. Esses são meus 5 mandamentos. Não são 10 porque não sou ambicioso, mas são os 5 que permitem que eu aproveite cada dia. Eu sigo apenas esses para ter uma vida confortável, eu sigo esses cinco para o meu bem-estar e o de outros, pois eu acredito que não terei outra chance além da que estou tendo agora. Eis o meu último mandamento: “Não perca tempo com idiotas.” Tire suas conclusões.


1-      “Contemple o ignorável.”
2-      “Empalhace-se.”
3-      “Consuma-se em sua própria imaginação.”
4-      “Não se arrisque, idiota!”
5-      “Não perca tempo com idiotas.” Como esse aí em cima.


Gabriel Vitor Tortejada


Erros grotescos de português corrigidos, eu acho(que todos). 

27 julho, 2010

Do luar


À lua, as coisas acontecem.
O sangue escorre,
Mas os amores se aquecem,
Há um homem que morre
E ainda assim sentimentos florescem.

À luz da lua revelou-se minha amada.
Não de maneira platônica nem desconhecida,
Revelou-se quem há muito por mim era beijada
E mesmo assim a tempestade não era nascida.

Em meio ao terror
Encontrei o torpor,
Apareceu-me a flor,
Senti fundo o amor.

Encontrei-me por dentro aos prantos,
Quebrando as estruturas que lutei para criar,
Caíram fortes e portas em pequenos atos
Que tanto tentei evitar.

Meu interior estava assim, trancado.
E com um simples toque no coração,
Concedi a mim mesmo o perdão
E ela então me fez apaixonado.

Nas noites que eram então dos assassinos,
Dos monstros, dos sem pudor,
Encontrei a salvação de meus sonos.
Por saber finalmente o que é o amor.

As noites são nossas e de mais ninguém.

Gabriel Vitor Tortejada

06 julho, 2010

Back from the fight


We fought through several years,
Looking for our honor
In the hands of our enemies.
We’ve lost ourselves in the despair
Until find out that we’ve lost in our victory.

The blood of the man is still in our hands,
Our cruelty was clear in the moment of our death.
We regret for our misery as well as the others,
We did everything we could to show them
How weak was our strength.

We came back home, with bloody swords in our hands
And with the cheers of a great people
We realized how foolish we were.
To follow a man who was thrown in a fight
That wasn’t even his.

By the honor we’ve got in the battlefield,
We decided to declare peace,
Against our ruler's will,
We established peace
With a king’s head on our walls.

Gabriel Vitor Tortejada

29 junho, 2010

Da idealização

Ele acorda de pulo em uma cela de prisão. Não lembrava quem era, de onde vinha ou o que fazia lá. Só tinha um nome na cabeça: Mary Hegel. Cada vez que repetia aquele nome, sentia-se quente, como se algum sentimento existisse dentro dele por alguém que não conhecia. Ou pelo menos não lembrava de tê-la conhecido. Gritou contra as grades, gritou para as paredes, pois não havia ninguém no lugar. A delegacia estava completamente vazia. Algo estranho estava no ar.
          Bateu inúmeras vezes no portão até descobrir que estava aberto, andou sorrateiramente esperando ser abordado a qualquer momento. Nada aconteceu. Na recepção, nenhuma alma viva, apenas uma televisão transmitindo um filme em preto-e-branco. Ponderou que tipo de canal colocaria isso no ar de tarde, e sentiu pela primeira vez o frio na espinha da situação desconhecida que estava enfrentando. Como ninguém o impedia, simplesmente saiu. Para a liberdade, ou não.  
          A rua estava vazia. Semáforos trabalhavam para carros invisíveis em tráfego, os únicos carros que estavam na rua, permaneciam estacionados e nenhuma alma viva para tirá-los do repouso. A viatura estava com a porta aberta e a chave no contato. A adrenalina subiu quando entrou no veículo, estava assinando seu retorno à cela, apesar de não haver nenhum policial, ou melhor, nenhuma pessoa à vista. Abriu o porta-luvas por instinto, encontrou uma pistola, empunhou-a e de repente flashes de memória acertaram-no como um caminhão.
            Sabia usar aquele objeto. Conhecia o peso, as medidas, sentia-se confortável com ele em sua mão. Considerou ser policial, acordar numa delegacia, saber manusear uma arma policial, mas considerou também o oposto, seja lá qual for, o que desejava em suas entranhas para não ser. Não houve necessidade de arrumar os espelhos ou o banco, estava tudo na perfeita posição para ele. Decidiu dirigir, sem destino, sem conhecer por onde andava, simplesmente dirigir à esmo. Guiou instintivamente, como se tivesse feito isso por toda a vida.
            Perdeu sua percepção de tempo, e para ajudar, seu relógio estava parado. Pela primeira vez reparou a si mesmo nos espelhos. Apresentou-se à sua face enquanto mais um turbilhão de memórias chegavam ao seu ser. Infância, mãe, pai, amigos. O passado inteiro encontrou-se com ele sem ao menos lhe dizer um nome. Ninguém nas ruas, já dirigia há horas - sem perceber - e de súbito decidiu parar.
            Estava no subúrbio de frente para uma casa comum de dois andares, mas o comum não o convenceu, teve que entrar. A porta rangeu alto em sua entrada, fotos estavam espalhadas por todo o saguão, fotos de família, fotos de uma mulher: Mary Hegel. A cada vislumbrada de seus lindos olhos verdes e cabelos cereja seu coração se enchia, suas pernas tremiam e sabia que a amava, só não sabia como e nem quem ela era.
            Decidiu ir ao quarto. O aroma da mulher estava em todos os lugares, ele sentia a sua presença lá. A via sentando-se em frente ao espelho, se trocando, dormindo. Mas havia algo de errado. Suas coisas estavam encaixotadas, tinha algo errado. Ela estava se mudando? O pior? Novamente suas memórias entraram em colapso e flashbacks passaram por sua cabeça. Corria abraçado com ela, ele estava mancando, tinha uma arma na mão. O dois estavam fugindo de alguém e, em um pulo temporal, vê o corpo dela estendido no asfalto, sangue para todos os lados, um pequeno orifício na lateral da testa. Ela estava morta.
            Por um segundo se ajoelha no chão e começa a chorar. Fecha os olhos com muita força e soca o chão com a raiva imensa que sentia, mas o chão mudou de textura. Era grama. Abriu os olhos para ver uma imensa lápide com os seguintes dizeres: Mary Hegel - filha e esposa. De onde vinha todo aquele amor? Será que ele era o marido de Mary? O que acontecera de fato com ela? Então uma voz vindo de trás responde essas perguntas:
            - O interessante é que você realmente não entendeu nada do que se passou nesse tempo que você vagou na cidade.
            - Quem é você? Em que lhe interessa a minha vida?
            - Ora, me interessa, e muito. O que me surpreende é você não ter percebido que morreu. E não ter percebido também que a causa da morte dela foi você. O anjo da morte estava lá para levar os dois, e esse anjo fui eu.
            As memórias ficaram claras finalmente, o homem não amava Mary, mas foi pago para matá-la. Ele a seqüestrou, mas ela estava sendo vigiada e aconteceu uma perseguição policial contra ele. Matou a mulher sem piscar, pouco antes de ser executado pela polícia.
            - Você a matou por dinheiro, assim como outros antes dela. E é por isso que você está aqui, esse é seu paraíso, sem pessoas, sem nada. E o único amor que você jura ter foi implantado para que seu sofrimento nesse lugar seja ainda maior. Você nunca a amou. Simplesmente ama agora porque gosto de sua agonia. Aproveite a eternidade.

Gabriel Vitor Tortejada


17 junho, 2010

Onde chegamos?

Não há limites para a idiotice. E mesmo que houvesse, duvido que alguém um dia preveria por ser um limite extremamente grande. Eis que apresento a personagem: Juliana, 27 anos e muita vida pela frente. Suas burradas nunca foram tão grandes quanto a da noite passada. Apresentava-se ao trabalho cedo, fazia todas as tarefas com louvor e empenho, nunca existiu nenhum obstáculo que pudesse impedi-la de realizar seu trabalho. Mesmo com dificuldades apresentava-se uma excelente funcionária e nunca falhava.

Estava no escritório há 6 meses. Impressionava a todos com sua capacidade de administradora e não era raro ser chamada para reuniões sociais pelos funcionários da empresa, esse foi o problema. Sempre extrovertida, fazia amigos com facilidade e acabou por se aproximar de seu chefe, Anselmo, em um relacionamento cordial. Até o dia em que um happy hour foi marcado. Estavam todos num bar, dividindo drinks e conversando animadamente. Enquanto o nível etílico se elevava, a conversa se tornava a cada passo mais pessoal.

Anselmo e Juliana trocaram olhares e, antes que percebessem, estavam aos beijos em um canto obscuro próximo da mesa de bilhar. Sorte dos dois que a maioria do pessoal da empresa já tinha se retirado, já que o happy hour acabou se prolongando para o início de uma madrugada. Infelizmente para a mulher, tinha esquecido da posição hierárquica que se mantinha na empresa e como sua posição naquela sala confortável estava em risco. Anselmo também respondia a alguém. Todos têm um chefe de alguma maneira. E a partir daquele momento os dois estavam na berlinda quanto ao emprego.

O chefe, casado. A funcionária, há uma assinatura do divórcio. As coisas ficaram mais claras quando Juliana voltou para casa para ter uma conversa com sua mãe, que estava sóbria. A expressão de espanto da mulher era legível até para um cego. Não havia palavras o suficiente para descrever  a ação impensada da filha. E também ações para que fosse resolvida a questão. Ela tinha violado uma regra que, de tão explícita, ninguém fala sobre: Não se relacionar afetivamente com colegas de trabalho, principalmente o seu chefe.
 
Como chegamos ao presente, não há solução para a questão levantada. Não há acontecimentos que digam o que aconteceu com Juliana, mas uma frase que sua mãe falou é uma ótima conclusão para o caso descrito aqui:

- É mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha, do que um imbecil entrar no reino dos céus.

Gabriel Vitor Tortejada

13 junho, 2010

Negros da Terra

No dia de ontem passamos por uma das piores tempestades da viagem. O percurso nem é tão longo ou difícil, mas parece que os olhos de Deus estão sobre nós em nossa empreitada. Não entendo como pode Ele estar bravo conosco apesar de suas sagradas escrituras nos dizerem que podemos tomá-los como nossos escravos. Não me orgulho de nossa crueldade, mas são filhos de Cam, filhos de Canaã, são escravos destinados por Noé, é o que está em suas escrituras. Ou pelo menos o que nosso padre nos diz. Senhor, desculpe-me por não ler teus escritos, mas tenho que trabalhar, dependo do atlântico, dependo dos pretos, dependo de nossa crueldade para alimentar minha prole lá de volta na mãe luzitana.

A tempestade foi cruel, quase viramos e alguns homens estão morrendo do mal da Angola. Viemos de um porto diferente, não entendo como nossa tripulação foi afetada, mas eu ainda não adquiri nenhum do sintomas e temo pela minha vida. Estamos há 30 dias no mar nada de costa, mas vi aves voando ao longe e presumo que já estamos perto. Espero que não tenhamos que jogar a mercadoria no mar como da última vez. Apesar do dinheiro do seguro, detesto ver as expressões de desespero daqueles homens que sequer entendem o que está acontecendo, mas, quem sou eu para me levantar contra isso? Sou apenas um mero marinheiro que limpa o chão do barco, nada mais.

Seguimos em direção de Noronha, mas vimos franceses seguindo em uma direção diferente. Parece um navio de mercadorias. De acordo com o capitão eles estão indo para algum lugar perto da capitania de São Vicente, mas ouvi rumores que eles aportam em Ubatuba e negociam com os índios contrários à nossa coroa. Não sei se piratas, mas com certeza são perigosos.

Rezo pela alma dos pretos no nosso navio, pois ao contrário de nossa igreja, não acho que são impuros ou infiéis. Os índios canibais é que são, eles são apenas desenformados e não há como lhes mostrar o nosso Deus se não conhecem a nossa língua. De qualquer forma torno a falar que rezo pela alma deles, que com certeza as têm, pois sei que na hora da morte irei para um lugar muito pior do que eles irão.


Gabriel Vitor Tortejada

23 maio, 2010

Da tempestade

Falei por três vezes,
Sem pensar, entusiasmado.
Falei de maneira incoerente,
No ápice do tempo,
No ápice do calor.

Sonhei que falei mil,
Ainda que assim não tenha sido.
Pensei em não falar,
Mas o peito não agüentou.
Ele gritou ardente.

Falei três vezes sem razão,
Esqueci das filosofias e enchi meu coração.
Falei três das quais uma foi correspondida.
Das três essa foi minha favorita.

Falei ao Mar da tempestade que causou em mim.
Resumi tudo em uma palavra menor.
Disse ela três vezes.
Eis que na minha vida então,
Estive certo apenas essas três.

Gabriel Vitor Tortejada

06 maio, 2010

O Ladrão de Ases - Outra visão

- Maria! Vem aqui sua vagabunda! Não pensa que eu não sei o que você fez, porque eu sei sim! Sabe aquele porteirinho lá? Tá morto, tá morto. Assim como você, sua vadia!

Já está na hora de sair daqui. Não é um momento oportuno para ninguém estar aqui. Apesar do costume me mandar ignorar o fato de que um potencial homicídio está para acontecer, não conseguiria continuar aqui sem que me levasse à morte tentando impedir a daquela moça. Um erro não justifica o outro, eis o que minha avó sempre dizia.   

Todos os tipos de artigos diferentes vêm à minha cabeça para explicar quantos crimes esse homem está cometendo de uma vez só. Não há artigo que descreva a realidade, isso é fato. As tentativas de meus pais me tornarem advogado me frustram a cada momento que vejo o quanto somos irracionais e que de irracionais não merecemos julgamento nenhum, merecemos a cova.

O vento bate em meu rosto acolhedoramente naquela noite quente. A liberdade se coloca à minha frente sem nenhuma restrição. O que me restringe é a morte que anda ao meu lado enquanto piloto a motocicleta. A cada desatenção minha recebo um toque gélido no meu ombro me lembrando que não devo errar, que não é a minha hora, que o aviso é bem vindo mas não vai me impedir da morte prematura. A morte é amiga, ela me avisa que ainda não é hora.

Chegar em casa é reconfortante e desconfortável ao mesmo tempo. Estou seguro, mas longe da minha vida. Não me sinto vivo em casa de rico. Mesmo que seja a minha própria. O entrar sem fazer barulho é o mais difícil, mesmo que não adiante nada. Meu pai está me esperando na sala, o que não é surpresa nenhuma já que ele descobriu onde passo meus dias após a faculdade.

- Onde você estava? - Começou ele uma discussão silenciosa.
- Como se você não soubesse.
- Quero ouvir da sua própria boca.
- Por que? O seu detetivezinho particular não disse o local exato?
- Que você estava naquela favela? Claro que disse. João, o que você faz naquele lugar? São drogas? É      uma vadia qualquer? Eu quero entender.
- Você não entenderia.
- Tente!

Ative-me a olhá-lo com desprezo. Ele me insultava com aquele papo de mulher, de drogas! Eu não precisaria ir para a favela todos os dias para nenhum desses dois casos. Sua barba escondia a forma de seu queixo, gotículas do uísque que tomava ficavam em seu bigode. O rosto demonstrava cansaço nitidamente, mas sua hipocrisia em tentar ajudar a vida do filho impedia que ele dormisse sem saber de onde vinha a minha felicidade. Que felicidade.

- Eu realizei o seu sonho ao entrar na faculdade de direito, agora me deixe viver minha vida da maneira que eu bem entendo.
- Eu só quero o que é melhor para você!
- Então você faria muito mais por mim do que apenas ser pai!

Não espero uma resposta, o quarto me chama pelo conforto, pelo sono. E pela solidão. Aos meus últimos passos antes da porta ouço choro vindo da sala. Não me interesso em olhar para trás.

Gabriel Vitor Tortejada

22 abril, 2010

Satanista

“Não me iludo com esse tão famoso sentimento de felicidade, aliás, como é tão dito, feliz é quem sonha. Se quem sonha é feliz, se sente realizado com o que não tem e se ilude com o que poderia ter. Isso não é felicidade, é frustração. Podem me chamar de pessimista, estadista ou até de satanista, mas o que eu sou mesmo é conformista. Sonhos só te levam a pedir para sua mãe, ou para o despertador, mais dez minutos na cama. OK, eu sempre peço esses dez minutos mesmo sem sonhar, mas quem vai julgar? Nada melhor que enganar a felicidade com uma boa noite de sono e um bom dia de humor.”

“Falando nisso podemos viver plenamente sem felicidade apenas mantendo o bom humor. Falam que o humor causa uma explosão de hormônios no seu corpo, aqueles com os nomes tão grandes que me alongaria demais nesse diálogo, e evitam câncer e te ajudam a enfrentar qualquer doença. Pregue o humor, não a felicidade. Já que se você é feliz, você é sábio, pois ninguém sabe se é, pois essa maldita raça humana nunca sabe o que quer. Quase nunca. Só sabe que quer mais.”

“Então, se sou feliz eu não sei, prefiro viver ao pensar nisso. Saberei da minha felicidade e dos rótulos da minha vida quando eu morrer. Me lembrarei de ligar para você quando eu morrer, aí poderemos discutir se fui ou não feliz. Cara! Quantas palavras repetidas em um texto só! Licença poética, eu posso. Assim como escrever felicidade com cedilha. Quer ver? Felicidade. Não deu, a porcaria do Word corrigiu. Fazer o que, nem errar mais eu posso. Acho que então eu sou feliz, porque todos me dizem o que fazer e o que sou. Dane-se, já me alonguei demais. Quando eu morrer eu te ligo para conversarmos mais. Fale mais da próxima vez, quase não ouvi a sua voz! abraço!”

Gabriel Vitor Tortejada

06 abril, 2010

Ás Noturno

- Acho que eu posso tentar conversar com você antes de tudo, não posso, Andrei?

- O que há para conversar sobre isso. Você não é um herói, sua obrigação não é me surrar e depois me prender?
    
O sorrateiro herói desce dos telhados do banco e entra andando pelo saguão do banco a fim de evitar que qualquer outra coisa ruim acontecesse. O seu nome é Ás Noturno e está cara a cara com um de seus arqui-inimigos, o Punho de Aço.

- Você acha mesmo que essa é a minha intenção? Machucá-lo e prendê-lo? Eu quero muito mais do que isso. Eu quero uma vitória. Eu uso da violência contra você apenas para evitar que você machuque alguém. Eu não me orgulho disso.

- O que você quer afinal? Que tipo de vitória é essa que você procura?

- Apenas quero que você entenda que o que você faz é errado. Arrombando um cofre de um banco você não está nada mais do que roubando o dinheiro da poupança daquela senhora viúva que vive de rendimentos do banco. Que matando alguém, uma mãe e/ou um filho vão chorar rios de lágrimas, vão sentir suas vidas miseráveis por apenas uma ação impensada sua. O que eu procuro na minha vitória é que você se torne assim como qualquer cidadão com os quais esbarro todos os dias. E não desejo a eles, menos que a você felicidade plena e perpétua. Eu quero que você viva a felicidade que eu não poderei viver enquanto houver pessoas com os mesmos pensamentos que você tem. Quero que viva uma vida completa que eu não poderei viver pela mesma razão. A vida que eu me privei ao usar uma máscara e viver duas vidas incompletas.

- E o que você ganha com isso?

- Simplesmente a satisfação de ter encontrado num inimigo, um amigo. E um motivo que me impeça de perder a esperança. Olhe nos olhos dos reféns que você mantêm e veja se eles não têm nada a perder com suas mortes. Veja o pânico, e imagine algo que você protege com unhas de dentes. Você não é menos humano do que eles. Nem eu sou, eu só escolhi me martirizar por dons que me foram dados. A minha vitória é ver que a cada momento chego mais perto de um humano olhando em meus inimigos.

- Eu... Eu estou cansado. Não agüento mais essa raiva, essa vingança.

Os braços caem no chão assim como todos os outros equipamentos da morte do Punho de Aço. Lágrimas escorrem por seus olhos assim como deveria acontecer com todo e qualquer ser humano. A polícia chega e o algema para levá-lo em cárcere. Uma última fala do herói é escutada:

- Você terá muito tempo para pensar na sua vida enquanto estiver na prisão. Mas veja, se estiver disposto a mudar, eu prometo uma visita minha toda a semana por todos os anos que você passar pagando pelos seus crimes, pois como eu digo, eu me preocupo com todos os humanos dessa cidade igualmente. O que me diz?
   
- Parece ótimo.

14 março, 2010

Compilação

O mar mostrou sua verdadeira forma,
Já não me é desconhecido como aos gregos,
Também não é errado como para os náufragos,
Mas me tomou como faz com eles.

Vamos achar o mapa do meu coração,
Já que esse eu perdi há muito.
Ou talvez tenha rasgado, não sei.
As chaves você tem,
Só temos de descobrir onde usá-las.

Os sonhos são o flerte de nossa insanidade,
O resquício de temos de nossa humanidade.
Vamos nos perder em nossos sonhos,
E talvez então assim eu aprenda a amar,
Já que amar em razão sei que não há caminho.

Tendes flores nos cabelos para mim,
Estavas esperando por mim,
Assim como eu por você.
Ensine-me a amar como os românticos,
Que lamentar já não quero como meu feitio,
Não mais.

Vendi minha alma às razões ingratas,
Curti as emoções até estáticas,
Venci a dor pelo contentamento,
Recusando o paradoxo vangloriado por Camões.

É meu mar, é minha flor,
É o canto de minha voz rouca,
É meu suplico desajeitado
E a uso para suplicar a você mesma:
Ensina-me a amar.

Gabriel Vitor Tortejada

19 fevereiro, 2010

Noite Mundana

Eles procuram felicidade instantânea. Eles procuram uma pílula. Não é que eu não use nenhum tipo de droga ou não me destrua por dentro, afinal, cigarro e álcool se enquadram nesse contexto. O diferente é, não preciso ser outra pessoa para passar bem o tempo e também não preciso ficar completamente embriagado para aproveitar uma boa música ou um bom dia. Eu me mato por prazer, não por fuga.

As batidas de uma música ruim machucam meus tímpanos, os atrozes dançam sem ao menos conseguirem controlar bem os movimentos. Sou um observador, não interfiro em nada. O escuro é parcial, vê-se a pista mas não o resto do salão, a fumaça do meu cigarro me conforta, o gole dourado e amargo me relaxa à medida que não me incomodo com os outros, apenas observo. Uma serva da luxúria me olha com um olhar diferente, ela é escrava de sua própria ambição de se mudar, ela é escrava das pílulas que tomou que a tornaram sedenta por seus prazeres mais obscuros.

Ela simplesmente vem em minha direção e me dá um beijo azedo. Minha língua amortece, me livro de sua companhia e saio do meu lugar seguro que era o sofá. Perto à janela me parece confortável, o ar puro da madrugada enche meus pulmões e repele a fumaça que estava retida no mesmo lugar. Tusso rapidamente para voltar às minhas observações. Meus amigos também se entregaram ao charme do proibido, à loucura da perda dos sentidos, à repulsa de si mesmos.

Mais um gole e o copo se esvazia, já é hora de parar, não quero me juntar à esse bando de corvos esperando a morte. Chegou então a parte ruim da festa, a mistura química, alcoólica e mecânica dos corpos respondem de uma maneira lógica. O mal estar. Pessoas caindo, cabeças girando e entranhas se rebelando. Cantos se cobrem de um líquido de cheiro amargo, e a náusea acompanha os meus sentidos quanto a essas demonstrações insalubres.

Tenho que sair de qualquer maneira. Desvio das pessoas no caminho, passo pela porta de vidro, um saguão se abre na minha frente exibindo poltronas e cadeiras das quais apenas uma está ocupada. A beleza dela é tão evidente quanto seu deslocamento. O óbvio é que apesar de passar despercebido, também estou deslocado. Sozinho em companhia de dúzias de amigos. Sento-me ao lado e começo uma conversa sutil. Ana, olhos verdes, cabelos vermelhos e face chorosa.

O tempo não passa e um beijo acontece, o incômodo dela com o gosto do cigarro é óbvio e desconfortável para mim. Outros acontecem até que esteja percebido que ela não liga mais, a companhia que ela queria acabara de chegar, alguém para não deixá-la sozinha, alguém que a entendesse. “Mais uma alma corrompida por mim”, penso. Não bebe, não fuma e fora abandonada por suas amigas, súditas da química.

O ar já não enche meus pulmões, meu corpo já se encosta quase que completamente com o dela, os músculos se enrijecem à estimulação no pescoço, ao cheiro completo de seus cabelos. Fronteiras são rompidas, lugares alcançados, e o que um dia poderia se dizer como uma idéia de pureza foi esquecida pela necessidade de quebrar a solidão. De fato, outra foi corrompida, e talvez eu tenha até me purificado um pouco também.

A noite passa, o sol nasce e devo ir. Dou-lhe um beijo de despedida. Não pego telefone ou qualquer forma de contato, nossas necessidades foram saciadas, não há mais o que procurar dali. A direção é firme e constante, as ruas permanecem no lugar onde devem estar para mim, diferente do que acontece para os passageiros. Cada um em sua casa como deve ser até que me deparo com a minha.

A cama macia me chama para deitar. O lascivo me toma a cabeça com as lembranças da noite. O perder do fôlego, as carícias eróticas. “A noite não foi tão ruim ao fim das contas”, fecho os olhos. Sem sonho, sem nada.


Gabriel Vitor Tortejada

17 fevereiro, 2010

Teus olhos


Não sei que conforto procuro em teus olhos,
ou será o gosto dos lábios que fica na minha mente.
Sei das palavras que tanto fugi,
do medo de me jogar e a vontade de sentir.

Sentir algo que nunca antes,
Ver com olhos de outra pessoa o que sempre quis.
Meus olhos incertos procuram sempre os teus,
minha boca, a tua
e minha pele quer encostar na tua.

Não sei por quantos homônimos eu passei,
ou passarei.
Sei que estou perto de ti.
E o carpe diem contigo quero conquistar.

Não sei se é só físico,
ou puramente emocional,
se é matemático, químico, espiritual.
Jamais me senti assim, e é assim que eu quero estar.
I think I’m falling.

Gabriel Vitor Tortejada

18 janeiro, 2010

prisão

se tu achas que de dor eu não entendo,
enganou-te por completo,
já que dessas coisas não fico fugindo.

se achas que lágrimas para mim muito significam,
por outra vez te enganastes,
já que tenho pessoas que me apóiam.

tuas palavras me dizem o que o coração não,
minha compaixão se esconde por detrás de suas máscaras,
já não tenho dó ou procuro perdão.
lembrei que tuas palavras já não me eram necessárias.

devo obediência aos que provam merecê-la,
não temo males de quem me ama,
tua angústia não mais me consola,
já que nem a ti, tua voz reclama.

Victor Rosa

06 janeiro, 2010

Dos pensamentos

As mortas lembranças que me assombravam há tempos voltaram como uma faca em meu peito. Tentei me livrar de minhas mazelas e dores, mas elas me perseguem até que eu consiga reparar no que eu errei. O fato é, está tudo para trás, de que maneira meu eu interior espera que eu consiga reparar o erro, falhei em física milhares de vezes para poder construir uma máquina do tempo.

Não foi essa a primeira vez que o arrepio vem quando ouço essa música, o diferente é que essa vez foi mais fraco, mas é tão amargo quanto antes. Todos os infinitos vermes escondidos em meu ser se remexem ao tocar daquela simples música boba e infantil, mas que de alguma maneira se grudou ao meu ser como um verme rastejante e sugador. Sugador de sonhos.

Seguir em frente realmente não foi difícil, o problema foi esquecer. Nem mudar foi, as mudanças foram feitas e efetivadas, mas de vez em quando a jeito imaturo e irritante vem a tona. O que digo é que preciso me ocupar, livrei-me das mentiras e aboli as insinuações. Agora só me restam duas máscaras e delas não abrirei mão.

É complicado escrever algo tão claro e conciso em uma papel sabendo que minha assinatura estará lá no rodapé, mas as palavras eram muitas para versos e versos são pouco rudes e diretos como a maneira de escrever que eu procurei aqui. Não é que foi de pura inspiração que escrevi essas palavras, mas é que precisava derramar um pouco no papel e não existe nada em que eu seja melhor escrevendo do que eu mesmo.

Sim, o início era uma preparação para a ficção, mas se encaixou demais comigo. Ou será que é ficção, ou será um eu-lírico de uma personagem oculta, um heterônimo ganhando vida ou um pseudônimo escondendo um novo eu? Não sei, não caberá ao meu julgamento mas sim ao julgamento do leitor. Afinal, uma folha de papel em branco pode significar muito mais do que apenas uma folha de papel em branco, imagine com palavras nela.

Ando pelas ruas dessa cidade olhando para corpos para todos os lados, pessoas mortas que andam e falam, que não se dão conta de sua deprimente pseudo-vida. Mas às vezes podemos pensar neles como sortudos já que quem sabe, sente e quem sente, se machuca. Não querendo entrar no lugar comum e entrando da mesma maneira, é possível que o ditado popular seja mesmo uma verdade: “A ignorância é uma bênção”.

Caro leitor, se achar uma sequer linha cronológica nesse vômito de pensamentos jogados em papel considere-se com sorte, por que eu realmente preciso de uma organização em meus pensamentos, quem saiba assim eu consigo entendê-los.

Eu

05 janeiro, 2010

Barbárie romana

Seja então essa a minha confissão final. Chamam-nos de monstros, vis, cruéis. Chamam-nos de bárbaros, seja lá qual for o significado de tal vocábulo. Fazem-nos lutar até a morte em arenas para alimentar a sede de sangue de um povo que se intitula romano. Que tipo de crueldade sou eu capaz à frente de tamanha frieza e monstruosidade? Sou chamado de Selifix, um nome o qual nunca tinha ao menos ouvido. Entendo um pouco desse latim repulsivo que essas criaturas falam, não há nada de refinado ou difícil, são apenas murmúrios de animais.

Não há honra na veia desses homens. Lutei por centenas de vezes consecutivamente procurando uma simples libertação e de nada adiantou, simplesmente me colocam para lutar mais. Que tipo de diversão ensandecida é essa que tanto procuram e nunca acham? Deixei-me ser dominado pela vida de minha mulher, de nada adiantou, virou escrava, foi violentada e morta.

Não há trabalho na vida dos líderes. De que maneira teria um deles honra sem ter ao menos trabalhado? Sem ter protegido o seu próximo mesmo que não tenha relação de sangue com você. Eles não têm lealdade, matam por luxos e mulheres. Eles não têm amor, transformam um ato lindo em uma repugnante cena de horrores. Orgias, bebedeiras, são monstros desalmados.

Eu quero a neve de volta em meu rosto, o bafo quente das fogueiras de tarde, o amor noturno com minha mulher, o abraço apertado de meus filhos. Eu quero a honra da guerra por proteção, quero a sensação de trabalho bem feito com a comida que punha na mesa. Quero a liberdade desse Império vermelho de sangue, quero fugir da ganância. Nesse dia entro na arena de encontro à morte, não quero mais lutar, não colocarei mais sangue em minhas mãos. Encontrarei minha família após a morte e que os deuses tenham piedade de minha alma.

Gabriel Vitor Tortejada

03 janeiro, 2010

Do sonho

Sonhei que um sábio sem sombra subiu à minha porta,
Com cansaço em seu semblante sussurrou sem medo,
Dos simples sabores, das sátiras sugadoras
E sonhos perdidos.

Rasguei seda, rompi barreiras,
Ralhei por rombos em minha alma.
Armei-me por calar a realidade,
Sufoquei-me por abismos criar.

A vontade existe no tártaro de meu ser,
O olhar congela com o toque da morte,
E a cada instante me mata mais.
Nunca me senti tão vivo.

O fato foi que o tempo conspirou,
Com ponteiros tortos e sem movimento aparente.
A dor na mão se tornava insuportável
E cefalicamente não queria parar.

O sonho veio e foi sem que eu fosse pestanejar,
A eternidade se passou sem ao menos eu lembrar
Que o sábio estava lá a me olhar.

O sábio sentiu assim não estar em seu lugar
E subiu mais até assim se assentar,
Em uma casa tão simples e sem que eu saiba ser sucinto
Só sei que não estava mais lá.

Gabriel Vitor Tortejada