18 janeiro, 2010

prisão

se tu achas que de dor eu não entendo,
enganou-te por completo,
já que dessas coisas não fico fugindo.

se achas que lágrimas para mim muito significam,
por outra vez te enganastes,
já que tenho pessoas que me apóiam.

tuas palavras me dizem o que o coração não,
minha compaixão se esconde por detrás de suas máscaras,
já não tenho dó ou procuro perdão.
lembrei que tuas palavras já não me eram necessárias.

devo obediência aos que provam merecê-la,
não temo males de quem me ama,
tua angústia não mais me consola,
já que nem a ti, tua voz reclama.

Victor Rosa

06 janeiro, 2010

Dos pensamentos

As mortas lembranças que me assombravam há tempos voltaram como uma faca em meu peito. Tentei me livrar de minhas mazelas e dores, mas elas me perseguem até que eu consiga reparar no que eu errei. O fato é, está tudo para trás, de que maneira meu eu interior espera que eu consiga reparar o erro, falhei em física milhares de vezes para poder construir uma máquina do tempo.

Não foi essa a primeira vez que o arrepio vem quando ouço essa música, o diferente é que essa vez foi mais fraco, mas é tão amargo quanto antes. Todos os infinitos vermes escondidos em meu ser se remexem ao tocar daquela simples música boba e infantil, mas que de alguma maneira se grudou ao meu ser como um verme rastejante e sugador. Sugador de sonhos.

Seguir em frente realmente não foi difícil, o problema foi esquecer. Nem mudar foi, as mudanças foram feitas e efetivadas, mas de vez em quando a jeito imaturo e irritante vem a tona. O que digo é que preciso me ocupar, livrei-me das mentiras e aboli as insinuações. Agora só me restam duas máscaras e delas não abrirei mão.

É complicado escrever algo tão claro e conciso em uma papel sabendo que minha assinatura estará lá no rodapé, mas as palavras eram muitas para versos e versos são pouco rudes e diretos como a maneira de escrever que eu procurei aqui. Não é que foi de pura inspiração que escrevi essas palavras, mas é que precisava derramar um pouco no papel e não existe nada em que eu seja melhor escrevendo do que eu mesmo.

Sim, o início era uma preparação para a ficção, mas se encaixou demais comigo. Ou será que é ficção, ou será um eu-lírico de uma personagem oculta, um heterônimo ganhando vida ou um pseudônimo escondendo um novo eu? Não sei, não caberá ao meu julgamento mas sim ao julgamento do leitor. Afinal, uma folha de papel em branco pode significar muito mais do que apenas uma folha de papel em branco, imagine com palavras nela.

Ando pelas ruas dessa cidade olhando para corpos para todos os lados, pessoas mortas que andam e falam, que não se dão conta de sua deprimente pseudo-vida. Mas às vezes podemos pensar neles como sortudos já que quem sabe, sente e quem sente, se machuca. Não querendo entrar no lugar comum e entrando da mesma maneira, é possível que o ditado popular seja mesmo uma verdade: “A ignorância é uma bênção”.

Caro leitor, se achar uma sequer linha cronológica nesse vômito de pensamentos jogados em papel considere-se com sorte, por que eu realmente preciso de uma organização em meus pensamentos, quem saiba assim eu consigo entendê-los.

Eu

05 janeiro, 2010

Barbárie romana

Seja então essa a minha confissão final. Chamam-nos de monstros, vis, cruéis. Chamam-nos de bárbaros, seja lá qual for o significado de tal vocábulo. Fazem-nos lutar até a morte em arenas para alimentar a sede de sangue de um povo que se intitula romano. Que tipo de crueldade sou eu capaz à frente de tamanha frieza e monstruosidade? Sou chamado de Selifix, um nome o qual nunca tinha ao menos ouvido. Entendo um pouco desse latim repulsivo que essas criaturas falam, não há nada de refinado ou difícil, são apenas murmúrios de animais.

Não há honra na veia desses homens. Lutei por centenas de vezes consecutivamente procurando uma simples libertação e de nada adiantou, simplesmente me colocam para lutar mais. Que tipo de diversão ensandecida é essa que tanto procuram e nunca acham? Deixei-me ser dominado pela vida de minha mulher, de nada adiantou, virou escrava, foi violentada e morta.

Não há trabalho na vida dos líderes. De que maneira teria um deles honra sem ter ao menos trabalhado? Sem ter protegido o seu próximo mesmo que não tenha relação de sangue com você. Eles não têm lealdade, matam por luxos e mulheres. Eles não têm amor, transformam um ato lindo em uma repugnante cena de horrores. Orgias, bebedeiras, são monstros desalmados.

Eu quero a neve de volta em meu rosto, o bafo quente das fogueiras de tarde, o amor noturno com minha mulher, o abraço apertado de meus filhos. Eu quero a honra da guerra por proteção, quero a sensação de trabalho bem feito com a comida que punha na mesa. Quero a liberdade desse Império vermelho de sangue, quero fugir da ganância. Nesse dia entro na arena de encontro à morte, não quero mais lutar, não colocarei mais sangue em minhas mãos. Encontrarei minha família após a morte e que os deuses tenham piedade de minha alma.

Gabriel Vitor Tortejada

03 janeiro, 2010

Do sonho

Sonhei que um sábio sem sombra subiu à minha porta,
Com cansaço em seu semblante sussurrou sem medo,
Dos simples sabores, das sátiras sugadoras
E sonhos perdidos.

Rasguei seda, rompi barreiras,
Ralhei por rombos em minha alma.
Armei-me por calar a realidade,
Sufoquei-me por abismos criar.

A vontade existe no tártaro de meu ser,
O olhar congela com o toque da morte,
E a cada instante me mata mais.
Nunca me senti tão vivo.

O fato foi que o tempo conspirou,
Com ponteiros tortos e sem movimento aparente.
A dor na mão se tornava insuportável
E cefalicamente não queria parar.

O sonho veio e foi sem que eu fosse pestanejar,
A eternidade se passou sem ao menos eu lembrar
Que o sábio estava lá a me olhar.

O sábio sentiu assim não estar em seu lugar
E subiu mais até assim se assentar,
Em uma casa tão simples e sem que eu saiba ser sucinto
Só sei que não estava mais lá.

Gabriel Vitor Tortejada