09 março, 2011

Da outra realidade

A brisa suave passa por meus cabelos como uma calmaria em tempos tempestuosos. Lembro-me de minha situação atual e o que fiz para chegar até ali. Quantos dias perdidos em uma busca que sequer chegou ao final. Não consegui achar a rainha Helena ao fim das contas, os sapos eram demais e demasiado grandes. Minha espada carecia de fio e obstáculos passavam por mim a todos os momentos. Não lembro ao certo se a luxúria esteve em meu caminho... Acho que esteve, mas não foi nada de relevante, afinal, no mundo globalizado de hoje, ter uma mulher deitada em sua cama não é algo que necessite das virtudes de um cavaleiro para ser concedido.
 Não confunda virtudes com as teorias daquele louco Maquiavel. O sentido atual da palavra serve para o que eu quis dizer. Procure em um dicionário, ou até na internet se quiser, mas provavelmente você já sabe o significado. Outra coisa interessante é a impenetrabilidade do castelo de Sir. Albert. Nunca me senti tão seguro em uma fortaleza na minha vida, há cachorros, torres, bananas e até brócolis para o máximo de segurança, mas não pretendo ficar por muito mais tempo por aqui não, pretendo voltar à minha busca assim que possível, rainha Helena precisa de mim e Sir. Albert prometeu me auxiliar como pudesse em minhas buscas.
Talvez eu vá pedir um corcel poderoso para ele... Talvez um Ray Ban ou até um Chevrolet, ainda não decidi a raça, mas os dois são muito bons e é difícil encontrar essa qualidade em qualquer outro lugar. Minha espada precisa ser afiada... Talvez eu peça para Zeus afiá-la para mim, Alah vai estar ocupado essa semana com o sinal de recepção da TV a cabo. Bom, a minha saída deve estar prevista para daqui uns 3 ou 4 séculos... Considerando razoável, já que estou aqui há 7.
Acho que tudo o que tinha para dizer foi dito, diga à mamãe que mandarei anchovas para ela de presente assim que puder... São boas para afastar mau olhado e para colocar na decoração de casa, e você, sinto muito não estar aí para ir ao casamento, com a quantidade de medicação que me dão aqui, não consigo nem andar em linha reta direito, mas se tudo der certo ainda poderei visitar você e seus almoxarifados...
Beijos, irmã
Sir. Jacques Silva


Paciente apresenta melhora significativa desde as últimas cartas escritas à irmã. A última frase demonstra uma quantidade de lucidez que não havíamos visto há pelo menos 10 meses, desde que ele foi internado pela primeira vez. Não recomendo a apresentação da carta aos familiares, principalmente pela parte final, precisamos evitar esse tipo de ressentimento grande, ainda com o casamento prestes a acontecer. Diminuir em dose mínima a medicação e acompanhar o paciente para verificar qual a freqüência dos momentos de sanidade dele.

Dr. Juliano Albert de Souza.

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